Augusto Boal

Blog

Teatro Legislativo em processo contínuo – Uma entrevista com o ativista político José Soeiro

11.09.2019

Por Fabiana Comparato

No mês de Agosto de 2019 o ativista político e parlamentar português do Bloco de Esquerda, José Soeiro, esteve no Rio de Janeiro para conhecer a Escola de Teatro Popular, criada por Julian Boal, afim de desenvolver projetos em colaboração, e também para participar de encontros que visam criar um novo caminho para o Teatro Legislativo no Rio de Janeiro. Um jovem político de esquerda, que quem não conhece tem agora a oportunidade de conhecer, e conhecer um pouco de seu trabalho e de seu ativismo político, verdadeiramente inspiradores.

Durante sua visita, José Soeiro, que é amigo e colaborador de longa data do Instituto Augusto Boal, nos concedeu o privilégio desta entrevista, na qual conta um pouco sobre sua trajetória política, que se mistura as práticas do Teatro do Oprimido, através de sua forma participativa e democrática de entender e fazer política. Práticas, inspiradas no trabalho de Boal, sempre atentas a sociedade à nossa volta e aos mecanismos que visam estimular o protagonismo cidadão dentro dos processos democráticos.

Fazendo jus a intenção de Boal ao criar sua versão beta do Teatro Legislativo, José Soeiro nos apresenta suas próprias experiências com os processos do Teatro Legislativo em Portugal, dando prosseguimento a essa prática que é em si,  uma proposta de pesquisa e exercício contínuos. Uma inspiração para momentos, como esse no Brasil, em que os caminhos da democracia e do estado democrático de direitos encontram-se sob ameaça.

 

Como se deu seu início na política? Já desde muito novo esteve envolvido com ativismo político?

A primeira vez que estive no Parlamento foi por um sistema que tínhamos em Portugal, mas que agora deixou de ser permitido pelo regimento, que era de rotatividade de membros da lista, em uma eleição coletiva. De dezembro de 2008 a aproximadamente abril 2009, estive então rotativamente por seis meses na Assembleia, e foi minha primeira experiência. Eu tinha 24 anos. Foi curta, mas deu para ter uma ideia de como funcionava o Mandato. Sendo que eu já pertencia ao Bloco de Esquerda[1], já tinha uma conexão com o ativismo político. Vinha de outras atividades, como do movimento estudantil, de participações no movimento LGBT, da cultura e da resistência cultural no Porto. Em 2009 então teriam novas eleições, e colocou-se a questão no Bloco a respeito da composição da lista de candidatos. Propuseram que eu ficasse no segundo lugar da lista, que seria uma posição elegível. Aceitei, claro, mas indiquei que eu gostaria de propor um mandato feito com Teatro Legislativo.

 

Então vamos voltar ainda um pouco mais. Como o Teatro Legislativo e a pesquisa de Boal entraram na sua vida?

Quando eu era mais novo, por volta de 2002, terminando o ensino secundário, participei de um intercâmbio para jovens na Irlanda com vários workshops de arte e grupos e associações de jovens. E uma das oficinas oferecidas era de Teatro do Oprimido, conduzida por um galês, o Iwan Brioc, que conhecia o Boal, e cuja organização tinha uma ligação com a Cardboard Citizens, organização do Adrian Jackson na Inglaterra[2]. O Iwan fez uns jogos conosco e nos contou a história [frequentemente repetida ao se falar da criação do Teatro do Oprimido] do encontro deBoal com um líder camponês chamado Virgílio[3]. Fiquei fascinado. Eu já estava envolvido com ativismo político e aquilo fez todo o sentido para mim. A ideia de juntar teatro com atividade política. Gostei tanto que busquei fazer mais oficinas de Teatro do Oprimido. E continuei pesquisando, indo atrás de livros do Boal, até que um amigo me conseguiu a versão Beta do Teatro Legislativo. Assim, na faculdade, fiz várias oficinas de Teatro do Oprimido com diversos grupos. Não tínhamos um grupo só, mas promovíamos muitas oficinas curtas e apresentávamos as peças do Teatro Forum ao final. Depois, mais tarde, tomei a iniciativa de escrever um email para o Julian Boal por conta do meu interesse por um artigo dele e ele me informou que estaria em um encontro internacional de Teatro do Oprimido em Barcelona, e que eu poderia ir. Então lá eu fui. E lá conheci o Julian pessoalmente, assim como outros que também replicavam e praticavam Teatro do Oprimido pelo mundo, como o Sanjoy Ganguly da India e o Robert Mazzini da Itália.

 

Retornando agora ao seu primeiro mandato, iniciado em 2009, como adotou o Teatro Legislativo? Como foi a experiência de colocá-lo em prática?

Então em 2009 eu já tinha alguma experiência e prática com o Teatro do Oprimido e conhecia a experiência do Boal com Teatro Legislativo, e que fazia todo o sentido para mim. As eleições parlamentares seriam em outubro daquele ano, como geralmente costumam ser. E no último final de semana de agosto o Bloco fez, como sempre faz, um fórum de reinício de ano político. Então propus a apresentação de uma peça de Teatro Forum para o Bloco, como uma forma de demonstrar o que gostaríamos de fazer com o nosso mandato através de Teatro Legislativo. O grupo que fez a peça se formou a partir de pessoas que se conheciam do movimento estudantil e que eram membros ou estavam próximas ao Bloco. Propus a eles montarmos uma peça a partir dos nossos problemas, as questões do ensino superior. Nessa altura eu já havia me formado, mas essas eram as questões com as quais eu havia militado por anos e muitas das outras pessoas do grupo ainda eram estudantes.

 Em Portugal quem é eleito não constitui gabinete próprio, mas sim um único, coletivo, do Bloco de Esquerda. E temos um principio no Bloco de que as pessoas que servem ao mandato ganham o mesmo que ganhavam antes, com um patamar mínimo de um salário razoável, para que as pessoas possam viver bem. Na lógica de que quando as pessoas assumem um mandato não vão ganhar mais do que ganhariam fora do Parlamento. Mas quando fomos eleitos ao Mandato com o qual eu dava a cara, decidimos que uma parte do meu salário seria utilizado para financiar o projeto de Teatro Legislativo. Na verdade, éramos todos ativistas e fazíamos as atividades voluntariamente, mas havia custos de deslocamento, alimentação, mobilização, etc. E então montamos a peça sobre a democracia no ensino superior, mais precisamente sobre o tema das bolsas da ação social e das taxas de inscrição. E também da entrada em força dos bancos dentro das Universidades, algo que estava a se iniciar naquele momento, porque o governo estava a desenvolver um programa para compensar a falta de bolsas promovendo empréstimos aos estudantes que, por sua vez, se endividavam para pagar as inscrições. Ao invés de aumentar as bolsas ou acabar com as taxas, estava a se caminhar para um sistema um pouco inspirado nos Estados Unidos, só que tendo o Estado como fiador público dos estudantes. A peça e o grupo chamavam-se “Estudantes por Empréstimo”, precisamente porque era o tema mais quente e que nós queríamos discutir. A peça que fizemos colocava naturalmente essa questão em pauta, mas também tratava sobre a dificuldade de mobilização dos estudantes para organizar a luta dentro de suas faculdades. Era uma peça que não procurava apenas identificar quais eram as alterações legais necessárias, mas era também uma forma de ensaiarmos com os estudantes como se construir um movimento. Fizemos mais de 50 sessões, percorremos quase todas as universidades do país. E depois, numa fase final, começamos a fazer a peça também com alguns grupos dos últimos anos do ensino secundário, porque nos pareceu interessante que as pessoas já fossem para o ensino superior familiarizadas com essa problemática. Em 3 de maio 2010 fizemos uma sessão no Parlamento de homenagem a Boal, por conta de 1 ano de sua morte. Convidados todos os estudantes que tinham estado em todas as sessões nas Universidades para essa sessão especial na qual voltamos a repetir a peça e apresentamos uma análise das sugestões que mais apareceram nas sessões. Nós, do mandato, identificamos quais eram as 7 ou 8 propostas mais recorrentes durante as sessões, as transformamos em projetos de lei, apresentamos como Teatro Forum e depois, em uma segunda parte da sessão, fizemos a votação dos 3 principais projetos de lei que seriam então apresentados. Mas nós não quisemos que os projetos de lei fossem simplesmente apresentados por nós mesmos, então propusemos aos estudantes que daquela sessão saísse uma petição, para que então eles voltassem as Universidades para recolher assinaturas e daí propor aqueles projetos de lei ao Parlamento via petição popular. Embora eu mesmo pudesse propor os projetos como parlamentar, queríamos devolver o processo a eles e continuar o movimento. Isso gerou outros momentos: sessões de teatro-forum que também serviam para colher assinaturas, o momento da entrega da petição,cobertura da mídia e oportunidade para explicar publicamente o processo, e a sessão de debate e votação dos projetos. Foi esse mais ou menos o percurso.

Depois houve eleições de novo em 2011, antecipadas, porque o governo demitiu-se quando aconteceu a intervenção da Troika[4], do FMI, o início do processo de austeridade em Portugal. Eu já não fui eleito para o mandato seguinte. Mantivemos essa peça ainda por algum tempo, mas depois as coisas foram se diluindo, quer porque as pessoas que compunham o grupo deixaram de ser estudantes, quer porque aquele processo especifico com aquele grupo também se esgotou.

 

Parece-meque, de certa forma, o seu processo com o Teatro Legislativo se deu de forma muito parecida como para o próprio Boal, no que tange seu envolvimento pessoal no processo. Parece mesmo inescapável e essencial a presença dessa figura ou grupo que propulsione e coloque o processo participativo em movimento. Sem essa força motriz o processo democrático tende a ser apenas representativo, deixando o cidadão num lugar pouco ou nada ativo em relação aos mecanismos quotidianos da política formal.

 Inclusive o ritmo de um processo participativo é um ritmo autônomo aos ritmos próprios da política institucional. E, portanto, uma das dificuldades é como compatibilizar, como respeitar o ritmo mais lento de qualquer processo participativo, que tem suas próprias cadências de desenvolvimento, com uma espécie de ritmo frenético e também determinado pela agenda midiática das instituições políticas e da política parlamentar. Isso é uma tensão permanente e é preciso muita força de vontade para resistir.

 

Mas apesar de extremamente trabalhosos, os processos de política participativa, me parecem, ao final, muito mais construtivose gratificantes, gerando políticas imbuídas de sentido para a sociedade e de fato funcionais. Imagino que sobretudo para você, um parlamentar tão comprometido com os processos democráticos e atento as demandas e direitos dos cidadãos, isso seja importante.

 Agora estamos vivendo um novo momento em Portugal porque a situação política mudou. Nos últimos 4 anos houve uma maioria composta a esquerda, chamada de “geringonça”. Isso mudou um pouco nossa capacidade, do Bloco de Esquerda, de atuar e propor leis. Mas em contextos como aqueles em que havia maioria absoluta do Partido Socialista ou quando há governos mais à direita, como pode um partido que não tem maioria absoluta exercer um mandato? Acho que uma de suas responsabilidades é fazer com que o mandato deixe outras sementes e crie outras raízes em que aproveitamos o parlamento para instigar outros processos. Porque se é só: apresentação do projeto de lei, marcar lá como uma bandeirinha, colocar uma notícia no jornal e, pronto, está feito e passa-se para o próximo, chegamos ao fim tendo havido alguma discussão, disputa de ideias e relações de força, mas do ponto de vista do envolvimento fica pouco. Acho que o efeito mais positivo do Teatro Legislativo, no nosso caso, foi a rede estudantil que criou. Inclusive várias das pessoas que participaram do grupo “Estudantes por Empréstimo”, acabaram por dirigir suas associações de estudantes e, aliás, passaram a ter menos tempo para fazer teatro, mas por boas razões. São essas sementes e esses resultados que estão para além dos resultados objetivos da votação dos projetos de lei. A avaliação desses processos não se pode fazer apenas a partir do resultado imediato da aprovação ou não de uma lei, envolvem outros critérios, outros olhares.

 

E agora, como foi esse seu último mandato (2015 a 2019)?

Neste novo mandato minha capacidade de ser propulsor de Teatro Legislativo foi muito menor, porque estive assoberbado de outras tarefas, com a coordenação e intervenção do Bloco na área do Trabalho e da Segurança Social, que são duas áreas gigantescas. E, ainda por cima, o Bloco nessa legislatura, fazia parte da maioria política, o que significa que todos os Orçamentos de Estado e todas as iniciativas na área do Trabalho e na área Social também tinham que ser negociadas entre o Governo, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e o Socialista. Mas tivemos processos riquíssimos. Chegamos até a fazer algumas sessões de Teatro Forum sobre a questão da precariedade. Ainda participo de um encontro de Teatro do Oprimido. E há grupos que trabalham com Teatro Legislativo sobre as questões do trabalho, com os quais não estou envolvido diretamente, mas que acompanho.

 

 Tem vontade de fazer Teatro Legislativo de novo?

Agora concretamente o Teatro Legislativo que me apetece fazer é relacionado ao Estatuto do Cuidador Informal em Portugal, do qual fui um dos responsáveis por sua aprovação. Um grupo que era invisível, que não tinha qualquer reconhecimento legal ou apoio institucional. Tivemos um processo de dois anos, entre se colocar a questão e apresentar a petição. Também percorri o país em sessões públicas sobre os cuidadores, e finalmente nos últimos dias de legislatura, agora em Julho, após grande luta, conseguimos aprovar o Estatuto. Mas agora ele precisa ser concretizado, existem muitas coisas a serem regulamentadas. O que eu gostaria de fazer agora, e um grupo de cuidadoras também, era um processo de Teatro Legislativo com esses grupos de cuidadoras, não só mais sobre a lei em si, mas sobre o funcionamento da lei. Agora é preciso transformar as diretrizes da lei em políticas públicas concretas. E neste caso eu sinto que o Teatro Forum e Legislativo podem ter muita utilidade.

 

Mudando um pouco de tema, como entrou em contato e se aproximou do Instituto Boal. Você chegou a conhecer o Boal pessoalmente?

 Cruzei-me com ele em Paris em um encontro que o Julian promoveu com um grupo de teatro que ele tinha na altura, e durante o qual Boal foi fazer uma formação, na qual não participei. Mas depois ele fez uma fala, que assisti. Conheci-o nessa circunstância. Mas não tive nem a oportunidade, nem a sorte, nem o tempo de desenvolver uma relação com ele. Tive com ele só nessa circunstância e portanto muito pouco. E infelizmente ele faleceu pouco depois. Mas há sempre aquele sentimento de que o conheço porque o li tanto. Tenho um sentimento de familiaridade, mas não de uma familiaridade resultante de um convívio com ele. Eu já havia lido um texto do Julian publicado em um livro Belga sobre Teatro e Desenvolvimento que me marcou. Porque mesmo dentro do Teatro do Oprimido aquilo que ele dizia me fazia muito sentido. Era uma visão muito mais politizada, do que o Teatro do Oprimido que eu já havia tido contato. E pensei “uau, é isso mesmo. Há alguém que está dentro do campo do teatro do oprimido e que está a dizer coisas que me fazem todo o sentido”. Uma espécie de crítica política sobre as múltiplas formas de utilizar o Teatro do Oprimido. Gostei tanto que escrevi ao Julian, havia seu e-mail no livro. E aí nos encontramos no encontro em Barcelona, como contei. E depois acabei neste encontro em Paris para conhecer o grupo dele, no qual houve essa fala do Augusto. E assim nos tornamos próximos. Até que em 2012 nossa relação ganhou uma dimensão maior de trabalho comum e de cumplicidade completa na ação. Nessa altura eu não estava mais no Parlamento, mas mantinha-me politicamente ativo. Portugal passava pelo seu período de austeridade, entrou o FMI e a Troika, e houve uma avalanche de neoliberalismo agressivo. E aconteceram grandes mobilizações em reação a esses processos de austeridade, as maiores que Portugal assistiu desde o 25 de Abril[5]. E me pareceu interessante juntar ativistas que estavam nessa luta contra a Troika, grupos de Teatro do Oprimido, inclusive alguns pequenos coletivos que eu tinha ajudado a formar em oficinas, mas juntando também o Movimento 12 de março, que foi a grande manifestação que iniciou esse ciclo de ação coletiva em 2011. E nesse contexto com muitos grupos de ativistas e coletivos, fizemos o primeiro encontro de Teatro do Oprimido e Ativismo em Lisboa em 2012, o “Óprima”. O encontro foi muito interessante e importante porque iniciou um outro caminho para o Teatro do Oprimido em Portugal – a vontade de ter um Teatro do Oprimido mais politizado, mais envolvido nas lutas sociais, menos dependente da agenda institucional e da forma como ela era condiciona a própria autonomia política dos grupos. E, em 2013, no segundo Óprima, nós chamamos o Julian para ser o formador das oficinas. E foi super importante porque ele trouxe um contributo e um conjunto de propostas sobre a própria dramaturgia do Teatro Fórum que tinha tudo a ver com as nossas inquietações. E aí realmente se iniciou uma grande cumplicidade militante para além da nossa grande amizade. E depois muitas coisas e encontros sucederam e fiquei próximo do Instituto. Estive no Rio. Entretanto a Cecilia já fez oficinas nos nossos encontros de Teatro do Oprimido em Portugal, e já esteve uma outra vez no Porto quando levamos a exposição de correspondências do Boal para lá. E assim se construiu uma relação que foi se desenvolvendo e continua até hoje.

 

O que nos traz a hoje, conte um pouco sobre o motivo de sua visita ao Rio.

 Estou cá agora com muita motivação para conhecer e aprender com a Escola de Teatro Popular do Julian, porque em Novembro teremos um Óprima no Porto e nossa idéia é em Janeiro criar uma escola de teatro popular no Porto também. Um pouco na mesma linha do que está sendo feito aqui no Rio. E também vim também dar o meu testemunho, sobre a minha experiência, com o Mandato político da parlamentar Dani Monteiro (PSOL), que pretende utilizar Teatro Legislativo, numa visão política de esquerda com a qual me identifico bastante. E nesse contexto também participar de um evento junto com a Dani que visa a criação da primeira turma da UERJ de Teatro Legislativo. É uma honra poder participar desse momento em que o Teatro Legislativo parece se reiniciar no Rio de Janeiro, não reeditando a experiência do Boal nos mesmos moldes, mas colhendo dela sua inspiração, procurando seu espaço nesse momento de resistência que se faz preciso no Brasil.

[1]Partido político português, fundado em 1999, que resultou da convergência de vários partidos da esquerda anticapitalista e de ativistas de movimentos sociais.

[2]Adrian Jackson trabalhou muito proximamente de Boal, traduziu cinco de seus livros para o inglês e sua organização Cardboard Citizens é uma das escolas de referencia fora do Brasil para multiplicadores do Teatro do Oprimido.

[3]Tínhamos feito um show, só para camponeses, que terminava com atores cantando frenéticas saudações revolucionarias (…). Foi quando o camponês Virgílio, chorando entusiasmado com nossa mensagem, me pediu que com o elenco e fuzis, fôssemos com seus companheiros lutar contra os jagunços de um coronel, invasor de terras. Quando respondemos que que os fuzis eram falsos, cenográficos (…), Virgílio não hesitou e disse que, se éramos de fato verdadeiros não nos preocupássemos: eles tinham fuzis para todos. (…) Quando lhe dissemos que éramos verdadeiros artistas e não verdadeiros camponeses, Virgílio ponderou que, quando nós, verdadeiros artistas, falávamos em dar nosso sangue, na verdade estávamos falando do sangue deles, camponeses, e não do nosso, artistas, já que voltaríamos confortáveis paras nossas casas. Esse episódio me fez compreender a falsidade da forma mensageira do teatro político, me fez entender que não temos o direito de incitar seja quem for a fazer aquilo que não estejamos preparados para fazer.”Boal, Augusto. “Hamlet e o filho do padeiro”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000 (p. 185-186).

[4]Troika é a designação atribuída à equipe composta pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, por causa do empréstimo internacional solicitado pelo Governo de Portugal em abril de 2011, ao qual foi associado um conjunto de condicionalidades de política econômica e social.

[5]A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos foi um movimento político e social, ocorrido a 25 de abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933,e que iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático e com a entrada em vigor da nova Constituição a 25 de abril de 1976, marcada por forte orientação socialista. (Wikipedia)