O Show Opinião surgiu após o Golpe de Estado de 1964. Com o aumento da repressão da ditadura militar no Brasil, o grupo do Teatro de Arena de São Paulo se separou e seus integrantes foram morar em outros estados.
Augusto Boal passou um tempo na cidade de Poços de Caldas (MG) e, em seguida, foi para o Rio de Janeiro. Nessa época, uniu-se a membros do CPC da UNE (Centro Popular de Cultura da União Nacional de Estudantes) para criar um espetáculo como resposta à ditadura.
A resistência contra o governo militar se organizava na cidade e um dos espaços de efervescência político-cultural era o restaurante Zicartola, mantido por Cartola e sua mulher, Dona Zica. O local era o ponto de encontro de sambistas de destaque, dentre eles Nara Leão, Zé Ketti e João do Vale. Daí surgiu o Show Opinião, no qual cantores, cantando, contariam suas histórias. O show é montado então a partir de uma colagem de fontes diversas: músicas, notícias de jornal, citações de livros, cenas esquemáticas e depoimentos pessoais.
“Nosso show-verdade era diálogo: João lia a carta que escreveu ao pai, ao fugir de casa, menino; lia para Nara, lágrimas rolando, lágrimas que vestiam suas palavras. Nara respondia com ternura, olho no olho, carinhosa: “Carcará. Pega, mata e come”. (Augusto Boal em sua autobiografia, Hamlet e o filho do padeiro)
O Show Opinião teve sua estreia dia 11 de dezembro de 1964 com Nara Leão, João do Valle e Zé Ketti no elenco. Semanas após a estreia, Nara Leão se afastou do espetáculo por problemas de saúde e indicou para lhe substituir uma cantora que havia conhecido na Bahia tempos antes: Maria Bethânia, que veio para o Rio de Janeiro na companhia de seu irmão, Caetano Veloso.