Augusto Boal

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Matéria da jornalista Eduarda Uzêda para o jornal A Tarde em 3/10/2016.
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Em 1997 Augusto Boal escreve carta endereçada ao International Brecht Society discutindo pontos importantes de sua leitura e compreensão do trabalho do dramaturgo alemão.

Esta carta, inédita, foi lida por Cecília Boal no Seminário “Que tempos são esses”, realizado no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em 2016.

O Instituto Augusto Boal traduziu a carta e a coloca aqui a disposição:

Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1997

Caro Marc Silberman,

Lamento não ter mais tempo para escrever mais longamente sobre Bertolt Brecht, como você me pediu . Mas este tem sido um ano particularmente difícil para mim, com muitas viagens ao redor do mundo, muitas oficinas, muitas palestras e demonstrações, além do meu trabalho contínuo aqui no meu próprio país no “Teatro Legislativo” – já conseguimos promulgar 13 leis municipais que surgiram das nossas intervenções com Teatro Fórum. O desejo tornou-se lei!!!

Brecht está e esteve ligado ao meu trabalho em muitos momentos da minha vida, e em muitos aspectos importantes.

Curiosamente, eu comecei a minha carreira profissional como diretor de teatro no mesmo ano (e quase no mesmo mês) em que ele morreu. A primeira das suas peças que dirigi foi “A Exceção e a Regra”, com os trabalhadores de uma organização sindical que não eram atores profissionais – e desde então, tenho trabalhado muitas vezes com não-atores, além de meu trabalho profissional com atores profissionais nos teatros oficiais.

O segundo, “A ascensão resistível de Arturo Ui”, foi a última peça que eu dirigi no Brasil antes de ser preso e mais tarde forçado ao exílio. Nós não podíamos produzir nossas próprias peças sobre o nosso próprio país e Brecht era um nome suficientemente prestigioso como para obrigar a censura à permitir que suas peças fossem encenadas. Queríamos denunciar o que estava acontecendo no Brasil e “Ui” era perfeito para esse efeito. Eu estava saindo do teatro uma noite, depois de um ensaio , quando fui sequestrado pela polícia secreta. A ascensão de nossos próprios Arturos era resistível, mas naquela época nós não conseguimos resistir …

Quando eu estava exilado na Argentina, lembrei de um de seus poemas em que uma velha vai a um supermercado, pega tudo o que precisa (pão, queijo, manteiga …) e, sabendo que ela não tem dinheiro para pagar essas mercadorias, coloca tudo de volta nas prateleiras dizendo, que afinal , ela não precisa de nada. O poema continua e o poeta sugere que ela não deveria ter feito isso: ao contrário, ela deveria ter ido até o caixa e exposto o seu problema – ela não tinha trabalho, não tinha nenhuma pensão, tinha apenas fome e precisava comer. O que poderia ser feito?

Esse poema nos inspirou e , na Bélgica, encenamos a mesma situação usando a técnica do “teatro invisível” – um jovem ator desempenhou o papel de um jovem desempregado enquanto outros atores ficavam em pé na fila com as suas próprias compras discutindo com o protagonista e com os outros clientes, que não sabiam que era “teatro invisível”.

E é claro , todas as pessoas no supermercado participaram intensamente na discussão sobre o desemprego, os salários, a fome… Sem saber que era teatro.

Muitos anos depois, quando eu estava vivendo em Paris onde criei meu primeiro “Centro de Teatro do Oprimido”, estávamos preparando um espetáculo para um festival de peças de Teatro Fórum , que são em geral peças curtas. Neste tipo de teatro, o espectador torna-se espect-ator , a peça ou modelo é apresentada uma primeira vez, e na segunda vez ele ou ela podem intervir e improvisar suas próprias soluções e alternativas. Queríamos apresentar peças de autores conhecidos preocupados com questões políticas e sociais e, é claro, eu me lembrei de Brecht, da sua peça “Aquele que diz sim e   aquele que diz não ” que também mostra que as soluções têm que ser encontradas . Mas, ao invés disso, nós fizemos “A esposa judia” exatamente como Brecht a tinha escrito, acrescentando apenas a presença em cena de todos os personagens com quem a protagonista fala no telefone. Na primeira apresentação, os personagens ficavam mudos, mas, a partir da segunda vez , ou seja da repetição do modelo, os espect-atores que desejavam substituir a esposa tinham o direito de improvisar com eles.

Utilizamos esta peça escrita na Alemanha antes da guerra, para discutir o racismo na França, muitas décadas depois.

Além destas utilizações práticas de Brecht ele funciona na teoria e ele influenciou muitas das minhas primeiras peças dos anos 50 e do início dos anos 60. Foi quando ele e Stanislavsky foram minhas principais fontes de inspiração teatral.

Desejo que o seu livro seja extremamente útil para todos os leitores IT’S.

Muito sinceramente,

Augusto Boal

Créditos: International Brecht Institute

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“(…)Reconheço que os golpes de hoje não se fazem necessariamente à força do fuzil e da violência explícita de então e que recorrem à retórica jurídica e a pretextos constitucionais que possam dotá-los de uma aparente legitimidade. Mas como nomear o processo de usurpação do poder que esta semana se consumou no Brasil se não chamando-lhe o que ele é, ou seja, um golpe? (…)”
José Soeiro é um jovem deputado português
Leia o texto na íntegra aqui

A peça aqui publicada foi escrita por Augusto Boal em 1956 e inteiramente proibida pela censura.
É a peça de um principiante, uma história aparentemente ingênua. Porém, coloca questões interessantes e, detalhe não negligenciável, deveria ser montada pelo Teatro Experimental do Negro.
Destacamos um trecho do texto do censor, o senhor José Américo Cesar Cabral (vale ler o texto integralmente, o sr. Cabral parece muito se ufanar de sua condição emérita). Diz o sr Cabral:

“É lamentável que o Teatro Experimental do Negro escolha peças que ofendem a moral e os bons costumes para apresentar aos seus sócios, pessoa humildes e sem a devida compreensão (…)”

Sem a devida compreensão? O que é que os sócios do Teatro Experimental do Negro deveriam compreender?
Acho que não precisa de muita tradução, porém traduzindo, de acordo com a censura, o teatro deverá ser um modelo de comportamento e o modelo deverá ser a família branca, de classe média, ocidental e cristã.
O resto será proibido e censurado.
Filha Moça

Em 1983 Augusto Boal, exilado em Paris, foi convidado para discutir uma questão importante para os trabalhadores franceses, a redução das horas de trabalho.
A proposta da CFDT – Confederação Francesa Democrática do Trabalho, um dos maiores sindicatos da França, era fixar a semana de trabalho em 35 horas. A medida visava reduzir o desemprego.
Antenne 2 , uma emissora de televisão, registra este encontro entre Boal e Jean Kaspar, o então Secretário Nacional da CFDT, onde o método do Boal é implementado para realizar o debate.
Confira neste link

Colocamos aqui, à disposição, o relatório do II Seminário Internacional Teatro e Sociedade que aconteceu em Brasília em dezembro de 2015.
VF Relatório final do II SITS versao 17 de ago de 2016

Exposição – Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio

A exposição Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio reúne parte da correspondência de Augusto Boal (1931-2009), criador do Teatro do Oprimido, durante os anos de seu exílio político, de 1971 a 1986. Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de literatura do IMS, a mostra fica em cartaz na Pequena Galeria do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro até 21 de agosto.
Uma parceria do IMS com o Instituto Augusto Boal.
Entrada franca.
Visitação: 4 de junho a 21 de agosto de 2016
De terça a domingo, das 11h às 20h.
Site: boalcartasdoexilio.ims.com.br
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O grupo de jovens que deu início ao Teatro de Arena tinha como principal característica o espírito investigativo. Encontramos no acervo do Boal esse texto em que Jean Paul Sartre fala do teatro burguês, que foi certamente comentado e estudado pelo grupo.
Aproveitem!!!!

Boal, um viajante contumaz, percorria os quatro cantos da terra dando palestras, oficinas, montando espetáculos pelos teatros do mundo. Tinha uma mala pequena sempre pronta embaixo da cama  e ainda encontrava tempo para se divertir colecionando coisas tão engraçadas como estas:
NA TRADUÇÃO SEMPRE SE PERDE (OU SE GANHA) ALGUMA COISA
Lobby de hotel em Bucareste: ” O elevador está parado até o meio dia. Ate lá os hospedes serão insuportáveis.”
Hotel em Atenas: “Os hospedes devem se queixar ao administrador todos os dias entre 9 e 10 da manhã.”
Hotel em Dusseldorf: ” Não é permitido lavar ou passar no quarto. Mostre sua roupa de baixo à camareira.”
Lobby de hotel em Moscou: “Não deixe de visitar o Monastério em frente onde famosos poetas, artistas e compositores russos estão enterrados todos os dias exceto às sextas-feiras.”
Tíquete de companhia aérea norueguesa: “Cuidamos de suas malas enviando-as com segurança em todas as direções.”
Supermercado em Hong-Kong: “O nosso é o mais eficiente, delicado e atencioso self-service da cidade.”
Semanário soviético: “Haverá, esta semana, em Moscou, exibição de 15.000 trabalhos de escultores soviéticos. Todos foram executados nos últimos dois anos.”
Dentistas em Hong-Kong: “Dentes extraídos pelos últimos metodistas ocidentais.”
Loja em Hong-Kong: “Entre na fila o mais cedo que puder. Na hora do rush é difícil executar os clientes com a devida atenção.”
Aviso em playground alemão: “Pede-se às senhoras não terem crianças à beira da piscina.”