Augusto Boal

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Já está disponível Teatro Situado. Revista de artes cênicas com olhos latino-americanos. N°4. Edição bilíngüe espanhol/português. Este número contém textos da Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Cuba, México, Paraguai, Peru e Venezuela, sobre o tema Territórios Abertos nas Artes Cênicas.

O download da revista é livre e gratuito.

Teatro Situado Revista de Artes Cênicas com olhos Latino-americanos N° 4. Territórios Abertos nas Artes Cênicas. Abril, 2022.

Coordenadoras: Julieta Grinspan | Mariana Mayor | Mariana Szretter | Design gráfico | Lorena Divano. Imagem de capa: Projeto de cenografia e indumentária de Alejandro Mateo (ADEA) para o espetáculo “El robo del siglo”, de Marcela Marcolini, dir. Pablo Razuk (trabalho em processo). Argentina, Bs. As.

A publicação bilingüe organizada por Julieta Grinspan, Mariana Mayor e Mariana Szretter, conta com textos e entrevistas em português e espanhol sobre a produção teatral da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México e Porto Rico, escritos por artistas e pesquisadores do nosso continente a partir do tema: “Experiências pedagógicas no ensino teatral”.


Design gráfico: Lorena Divano.
Ilustração de capa: Paloma Franca Amorim.
Ilustrações originais: Paloma Franca Amorim, Leandro Lucarena e Leandro Rosatti.


Boa leitura!

Artigo publicado hoje no Le Monde, sobre o lançamento de “Milagre no Brasil”. Escrito por Gladys Marivat, disponível aqui PDF, no link abaixo:

A publicação bilingüe organizada por Julieta Grinspan, Mariana Mayor e Mariana Szretter, conta com textos em português e espanhol sobre a produção teatral da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai e Venezuela, escritos por artistas e pesquisadores do nosso continente a partir do tema: “Artistas, pandemia e depois…depois de quê?”
Boa leitura!

Teatro Situado

COORDENADORAS

Julieta Grinspan – Atriz – Dramaturga – Professora de teatro

Mariana Mayor – Dra. em Artes – Atriz – Professora de Teatro

Mariana Szretter – Lic. em Letras – Docente

DESENHO GRÁFICO

Lorena Divano

ILUSTRAÇÕES

Ilustração interior: Julia Nardozza

Ilustração de capa: Maiamar Abrodos

Esse texto da pesquisadora e professora Iná Camargo Costa conta a trajetória de Augusto Boal no Teatro de Arena.

Enrique Buenaventura foi um importante diretor, dramaturgo, teórico, ator e poeta colombiano. Em 1955 fundou o TEC – Teatro Experimental de Cali. O texto de sua autoria que compartilhamos hoje data de 1970.

Quando colocamos online a página do Instituto Augusto Boal, a nossa intenção era divulgar o trabalho de Boal e também o do Instituto. Desde então temos tido algumas boas surpresas.

Muita gente já sabe que Boal nasceu na Penha (RJ), e que o seu pai, José Augusto, era dono de uma padaria famosa pelos seus pães e pela sua solidariedade.

Lá os vizinhos podiam usar o forno de lenha para os seus assados dominicais e, coisa preciosa, o telefone.

Graças a isso a padaria se tornou famosa, quase tão famosa quanto o próprio Augusto Boal.

Acontece que de vez em quando algum antigo vizinho da Penha nos lê no Facebook e entra em contato conosco.

É o caso de Antônio, casado com a filha da dona Solange , que entrou em contato para nos dizer que a sua sogra tinha trabalhado na padaria do seu Boal , que , naquela altura, já estava nas mãos de Albertino, o irmão médico , quem assumiu a padaria logo depois do falecimento do pai.

Pedimos a Layane que entrasse em contato com Solange e eis a historia.

O mais comovedor é o fato dela ter guardado preciosamente o cartão de Albertino Boal, médico, durante tantos e tantos anos.

Solange Maria de Lima:WhatsApp Image 2018-04-25 at 14.43.12

“No ano de 1989, eu estava na época com 19 anos, perdi meu emprego num supermercado e logo depois descobri que estava grávida e fiquei meio sem rumo porque não tinha como arrumar emprego, como eu ia arrumar emprego grávida, né? Aí o doutor Boal colocou no jornal  um anúncio pedindo  uma operadora de caixa para a padaria dele, ali na Lobo Junior. E eu fui assim mesmo, grávida, não falei nada e comecei a trabalhar. Fui trabalhando e o doutor Boal sempre me pedindo minha carteira para assinar, só que eu pensava assim: se ele assinar minha carteira, ele vai ter que pagar todos os meus direitos trabalhistas como se eu tivesse engravidado após o meu começo no trabalho, sendo que isso é uma inverdade porque eu já entrei grávida. Aí eu fiquei meio que enrolando para não perder o emprego e eu falava que ia levar a carteira e nunca levava. Quando foi um dia eu falei “quer saber? Eu vou falar a verdade”, aí eu falei com ele que estava grávida e ele me diria se me mandava embora ou não porque se eu desse a carteira e ele assinasse, depois ele ia ter que me pagar todos os direitos, me indenizar.  Eu acho que por isso, por eu ter dito a verdade, acabou que ele falou “não, pode ficar trabalhando até o final da gravidez”. Aí eu trabalhei, ele sempre me tratou muito bem, pegou uma confiança muito grande em mim. Ele falava do Augusto Boal, o irmão dele, que o irmão dele estava fazendo teatro e ele conversava muito comigo. Eu tive o bebê, fiquei um tempo sem trabalhar, acabei retornando. Dado um tempo, eu precisava de um emprego que pagasse mais, que eu pudesse ter uma ascensão. Eu precisava de uma carta de recomendação, ele (o doutor Boal) me deu uma  e eu só fiz entregar lá (na nova proposta de emprego) e já estava empregada ,  porque ele colocou que eu era secretária dele, que eu trabalhava há muitos anos com ele, ele falou que só me daria aquele papel porque confiava em mim. Passados dois anos, o gerente do doutor Boal vai lá em casa perguntar se eu to trabalhando porque o doutor Boal tava precisando de alguém para trabalhar com ele, se eu podia ir. Aí eu falei que poderia ir sim, só que tinha um problema, eu tava grávida de novo. O Antônio falou com ele, ele aceitou, trabalhei a gravidez toda. Ele quis conhecer a criança quando nasceu e eu sempre ia lá levar minhas filhas para ele ver. Eu agradeço muito ele porque foi em um dos momentos que eu mais precisava, que ninguém iria me empregar, ninguém iria ficar com uma pessoa grávida né?  Quando eu fui para ter minha filha, ele como tinha sido médico obstetra, me deu um cartão dizendo que eu era secretária dele, pedindo ao colega dele lá de Bonsucesso para me receber bem. Eu nunca fiz uso desse cartão, porque eu nunca gostei muito daquela coisa de “ah me trata bem porque eu conheço o fulano, beltrano”. Eu  acabei guardando o cartão por consideração, porque eu sempre fui muito grata a ele, por ele ter me aceito. Um dia, por acaso passei na padaria e perguntei ao Antônio por ele, aí ele me falou que tava tudo bem, nisso o telefone toca, era a notícia do falecimento do doutor Boal, eu achei curioso o fato de eu estar lá justamente naquela hora. Ele se dizia ateu, e tem tantas pessoas que às vezes se dizem religiosas e não deixam nada de bom para as pessoas lembrarem delas, ele foi uma das pessoas mais importantes na minha vida porque ele esteve presente nos dois momentos  em que eu mais precisei.

Na época os clientes da padaria eram aquelas pessoas conhecidas, que iam ali todos os dias. A padaria abria muito cedo naquela época, segunda a gente chegava e já tinha uma fila na porta. Na época eram aqueles fogões de lenha, hoje é tudo elétrico, mas na época era lenha então o doutor Boal tinha aquele galpão por trás da padaria que era cheio de lenha que era pra fazer os pães.  Eu me lembro bem das pessoas que eram clientes dessa época, engraçado, eu me lembro da fisionomia delas, me lembro que a maioria eram pessoas idosas. As pessoas às vezes comprava pão, mas na verdade eu tinha impressão que eles iam pra conversar também um pouquinho, pra tirar aquela coisa da solidão, porque muitos moravam sozinhos e iam lá comprar pão e acabavam conversando conosco e passando um pouco do tempo deles.”


Enviamos a entrevista para Sônia, sobrinha do Boal, que ficou emocionada e contribuiu conosco com seu comentário:

“Fiquei muito emocionada com esta história! Ele era exatamente assim. Ajudava todo mundo que ele podia, gostava de fazer amigos e todo mundo gostava dele. E a letra é dele mesmo. Embora ela não tenha feito uso do cartão, acho que ela deveria ter usado, porque não era um favor e sim uma maneira dele se certificar que ela seria atendida por alguém em quem ele provavelmente confiava. Era um grande cara também esse tio Albertino!”

Os textos de Boal são sempre tão atuais e tão presentes. Compartilhamos então, com vocês, a fala que ele preparou para discurso em função da vitória do Lula em sua reeleição, feito no Canecão em 2006. 

No vídeo Augusto Boal proferindo o discurso e abaixo o texto na íntegra:
17 de Outubro, Rio de Janeiro
“Companheiras e Companheiros,

eu quero lembrar àqueles que são da minha idade – e quero revelar aos menorzinhos -, que errar faz muito bem à saúde… desde que se aprenda. Nós aprendemos muito, aprendemos que não podemos continuar errando os mesmos erros que erramos no nosso passado político. Nunca mais os erros de 64: nunca mais a divisão.

Como cada um de nós é uma unicidade, é natural que, mesmo quando pensamos a mesma coisa, pensemos essa mesma coisa de forma diferente. Cada gêmeo, cada família, cada torcedor de um mesmo time, cada membro de uma mesma associação antifascista, cada militante de cada partido político de esquerda, por mais que tenha, com os demais, um sólido denominador comum, pensa de forma diferente a mesma coisa igual. Isso é maravilhoso, é assim que se avança: cotejando opiniões, dialogando entre companheiros, manifestando dúvidas e hesitações. (mais…)

No dia 28 de abril participaremos de um evento na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio): “Encontro com a arte engajada latino-americana: Engajado não é palavrão!”  (https://www.facebook.com/events/413723152386035/) onde serão, ao longo do dia, lidas peças de autores latino-americanos e terão espaços de conversa mediados pela Cecilia Boal.

Dentro da programação, contaremos com a leitura da peça “Ala de Criados” de Mauricio Kartun.

Mauricio Kartun é dramaturgo, diretor e professor de dramaturgia. Seu trabalho é de extrema importância para a dramaturgia argentina contemporânea. Suas obras da década de 1980 Chau Misterix, La Castia de los viejos e Cumbia morena cumbia são reconhecidas pela crítica teatral por trabalhar com o realismo reflexivo e utilizar ricos procedimentos teatrais.

Kartun fez parte do grupo teatral argentino El Machete, que encenou em 1973 na extinta Sala Planeta em Buenos Aires a peça “Ay, Ay! No hay Cristo que aguante, no hay!” adaptação de “Revolução na América do Sul”, com a direção de Augusto Boal.

 

Encontramos recentemente no computador de Boal estes comentários que certamente se referem a algum ensaio das peças de Teatro Fórum.

São conselhos especificamente dirigidos aos curingas: como são chamados os mediadores, os encarregados de organizar as participações do público e de sintetizar e analisar as propostas debatidas na cena.

“Acho que devemos dar muito mais atenção aos seguintes pontos que são fundamentais: 

  1. a proposta deve ser claramente definida: se é Dança do Trabalho deve ser formada por uma seqüência de tarefas repetitivas da profissão; se é a Vida na Comunidade, por um seqüência coerente de ações freqüentes. Quando se misturam propostas o resultado é misturado e, portanto, menos eficaz.

 

  1. os Curingas devem estar atentos para o fato de que os atores sempre podem fazer mais e melhor. A tendência deles, em um primeiro momento, é a de fazer os gestos miúdos, próximos à realidade. Os Curingas devem insistir em que, no palco, esses gestos devem ser ampliados, magnificados E DEVEM TOMAR CONTA DE TODO O CORPOe não apenas dos braços: O CORPO INTEIRO DEVE DANÇAR. Não que o corpo deva o tempo todo entrar em transe, pode ser dança suave, mas tem que ser integral.

 

  1. cada seqüência deve ser explorada com precisão para que se evite a confusão de não sabermos quem está fazendo o quê, e quando. Deve durar o tempo necessário para estimular os espectadores e para que sejam identificados e apreciados.

 

  1. ao usarmos o Espaço devemos usá-lo como um todo: o Espaço tem normalmente quatro ou cinco metros, por quatro ou cinco. Claro que os atores podem, em um determinado momento, ficarem todos em linha reta de frente para o público…  mas esse é um pobre aproveitamento do Espaço. Esses momentos não podem ser majoritários.

 

  1. Quando cada ator faz uma coisa diferente é lógico que se perca muitos detalhes porque não se pode tudo ver ao mesmo tempo. Os Curingas devem alternar: pode todo o elenco fazer a mesma coisa durante um certo tempo; podem-se formar grupos de dois ou de três, e cada grupo fazer uma coisa diferente. O que se perde é quando todo o elenco durante muito tempo faz, cada um, uma coisa diferente. Fazerem todos tudo igual o tempo todo pode ser monótono; fazer cada um a sua coisa, pode ser confuso.

 

  1. os Curingas devem pedir, durante os ensaios, que cada ator faça isoladamente todos os seus movimentos para que os possa observar, e para que os atores tomem consciência de que são importantes para o conjunto. Acontece que alguns atores pensam que, como são muitos em cena, a responsabilidade individual diminui. É exatamente o contrário: aumenta.”

Augusto Boal