Augusto Boal

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Ontem começou o ciclo de leituras dramatizadas no teatro Poeira, organizado pela SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais).
A primeira leitura foi de Zumbi dirigida por João Fonseca.
Foi muitissimo emocionante ouvir este texto novamente e ver o quão atual ele ainda é.
As leituras acontecem quinzenalmente e vão até o dia 07/11.
não percam.

Boal fala de Guarnieri – Na cobertura que a imprensa deu ao falecimento de Gianfrancesco Guarnieri, senti uma falta imensa do depoimento de Augusto Boal, seu grande companheiro de trabalho e de lutas, e com quem Guarna compôs Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes, duas das obras mais fundamentais de nosso teatro moderno.

Os dois se conheceram em 1956. Boal voltava dos Estados Unidos, onde tivera aulas de teatro com John Gassner (1902/1967) na Escola de Arte Dramática da Universidade de Columbia, e no Actor’s Studio. Por intermédio de Sábato Magaldi foi para o Arena, onde José Renato procurava alguém novo para dividir com ele as funções de diretor do grupo.

Guarnieri, na famosa foto de Ratos e Homens

O primeiro trabalho que reuniu os dois foi Ratos e Homens, de John Steinbeck, tradução de Brutus Pedreira, estreado em setembro de 56. O papel de George rendeu a Guarnieri o prêmio APCA de ator revelação daquele ano. E os dois não pararam mais até 1970, quando Boal dirigiu Guarnieri em A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht. É importante, inclusive, deixar devidamente consignado que Boal estava inicialmente cotado para dirigir Eles não usam Black-Tie, da qual chegou até a participar da escolha de elenco. Só não dirigiu pq o Arena andava por uma de suas crises bravas financeiras, e Boal foi obrigado a aceitar o salário que lhe ofereciam no Teatro Moderno, de Danilo Bastos (marido de Dercy Gonçalves na época), para dirigir Society em Baby-Doll de Henrique Pongetti, com Odette Lara. Assim, segundo o próprio Boal, “ensaiei Baby-Doll pensando no Black-Tie” que acabou brilhantemente dirigido por José Renato.

Boal e Guarnieri, tal como aparecem no programa da peça Ratos e Homens (1956)

Seria inútil querer escrever rapidamente sobre a parceria desses dois grandes mestres, talvez a maior do teatro brasileiro. Ela merece um tópico único que escreverei em breve. Neste, trago a vocês a mensagem que Boal generosamente escreveu, a meu pedido, sobre seu amigo e parceiro, em 1° de agosto de 2006, dez dias após o falecimento de Guarnieri.

Continua…

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A revista da SBAT, publicação da Sociedade Brasileira de Autores,      faz edição especial homenageando     o teatrólogo e dramaturgo Augusto Boal.
A edição de maio/junho de 2011    traz também um encarte da peça Revolução na América do Sul, de autoria de Boal acompanha esta edição
informações sobre a publicação no site da SBAT: www.sbat.com.br

Desde el 20 al 22 de agosto pasado tuvimos el agrado de Multiplicar el Laboratorio Magdalenas en Montevideo, Uruguay. La experiencia (impulsada por Bárbara Santos y Alessandra Vanucci, curingas de CTO Río) tiene por objetivo explorar las opresiones que vivimos las mujeres, más allá de la religión, la raza o la cultura a la que pertenecemos. En esta oportunidad 13 mujeres estuvimos trabajando intensamente muchas horas, y logramos profundizar y entender un poco más acerca de las relaciones opresivas que establecemos, en las sociedades machistas patriarcales que conformamos, y muchas veces reproducimos. Seguramente no es todo pero es un avance en la lucha de muchas!
Trabajamos en un marco de profunda confianza y respeto.
Junto con a la multiplicación que realizamos en Buenos Aires en el mes de abril, este encuentro se suma a otros realizados en muchos paises (India, Guinea Bissau, Brasil, Alemania, entre otros). Esperamos comentarios y sugerencias de otros lugares que estén llevando adelante acciones concretas en relación a la liberación de las mujeres en la actualidad!
Con Cariño. Cora Fairstein (Buenos Aires).

No dia 1º de setembro, o Teatro da Universidade Católica de Goiás (PUC) será palco de debate para discutir, por meio do Teatro do Oprimido, as opressões vivenciadas por jovens em conflito com a lei e/ou liberdade assistida (LA).
A atividade faz parte do projeto Laboratório Libertat, que tem por objetivo
utilizar as técnicas do Teatro do Oprimido para investigar as opressões de adolescentes em conflito com a lei. Este projeto é uma residência artística de Janaína Salamandra, integrante do Centro de Teatro do Oprimido – CTO, do Rio de Janeiro, contemplada com o Prêmio Residência Artísticas/ Interações Estéticas em Ponto de Cultura.
A programação contará com vídeo sobre o Teatro do obras de artes cridas pelos adolescentes estimulados pela Estética do Oprimido e uma cena de Teatro-Fórum baseada em fatos reais dos jovens. Após a apresentação haverá ainda sessão de Teatro-Legislativo.
A atividade acontece em parceria com o Ponto de Cultura ANTHROPOS e CREAS Noroeste e tem ainda a colaboração de Robson Parente, multiplicador local do
Teatro do Oprimido que atua no sistema fechado de jovens em conflito com a lei. Robson participou do projeto Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto, desenvolvido pelo CTO.
Antes da apresentação, Janna, acompanhada de Flavio Sanctum, curinga do CTO, e Elisângela Teixeira, realiza, de 25 a 31 de agosto, no CREAS Noroeste, em Capuava, oficina de Teatro do Oprimido com 20 adolescentes.
Voltado para os adolescentes em liberdade assistida (LA), coordenado por Janna Salamandra com apoio de Elisângela Teixeira e Robson Parente, o
Laboratório é, através da metodologia do Teatro do Oprimido, criada pelo teatrólogo Augusto Boal, uma pesquisa para investigar teatralmente as opressões sofridas pelos jovens em LA que fazem parte do Ponto de Cultura.

No dia 19 de agosto de 2011 no Teatro Rosil Cavalcanti, às 19h, será relizado o seminário de conclusão do Projeto ESTÉTICA DO OPRIMIDO CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, com aprsentação de cena de Teatro Imagem de jovens integrantes do PROJOVEM e PETI de Cubati e Dança do Cotidiano da Mulher, com a Companhia de Projeçoes Folcólóricas Raízes do Amanhã, de Campina Grande.
Também haverá a EXPOSIÇÃO ESTÉTICA DO OPRIMIDO e Debate sobre a Violência doméstica com a presença da Sra Maria Angélica Fontão da SECRETÁRIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHEREES – Presidência da República, Prfa Idalina Santiago – UEPB e Grupo Flor e Flor e um repreentante da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social da Paraíba.
ATIVIDADE GRATUITA
Agradecemos se puderem ajudar a divulgar.
Site CTO-RIO

A imprensa anunciou que o acervo de Augusto Boal seria transferido para os Estados Unidos, para ser recuperado e preservado por uma fundação estadunidense. Qual é a real situação dessa transferência?
Cecília Boal: Creio que existe ainda no Brasil um problema em relação à preservação da memória e seria interessante entender as razões. A novela do acervo do Boal é muito semelhante às historias que relatam outras famílias igualmente responsáveis por outros acervos. E é muita responsabilidade! É muito difícil preservar um acervo. Difícil e caro. Que interesse tem preservar um monte de papeis velhos? Para alguns, muito, para outros, nenhum.  Para as famílias tem, além do mais, outro conteúdo, um grande valor afetivo. Creio que todos ficam muito penalizados vendo tudo se estragar.
Somos testemunhas diretas desse estrago. Boal morreu em maio de 2009 , estamos em agosto de 2011. Tudo que havia na minha casa (e digo isso porque creio que deve haver coisas do Boal espalhadas pelo mundo), ou quase tudo, foi transferido para a biblioteca da Unirio onde ficou da mesma forma, sem tratamento e sem as condições requeridas. Aparentemente seria um ótimo lugar. Uma universidade onde se estuda teatro, estudantes interessados podendo pesquisar. Porem não foi assim e a gente nunca vai saber o que aconteceu exatamente. Cansei e trouxe de novo tudo para minha casa. Agora  aluguei uma salinha em Botafogo e todas as coisas estão lá e vão continuar lá até que se encontrem as condições para que sejam realmente preservados.  Agora eu quero ter a garantia absoluta.
A New York University, onde Boal sempre trabalhou,  mostrou interesse em ter a guarda desse acervo, para higienizá-lo , cataloga-lo e colocar uma cópia integral na internet, ou seja, à disposição de todos , em qualquer lugar do mundo e de forma inteiramente  gratuita. Existe dentro desta biblioteca um setor chamadoTamiment Library  totalmente consagrado a autores da esquerda e à historia do sindicalismo no mundo.  É muito interessante e vale a pena entrar no link  para conferir. Eu pessoalmente acho que o Boal estaria em excelente companhia neste espaço e seria muito bem tratado. Porém, também acho que  as histórias que se originaram no contexto de uma determinada cultura pertencem a ela e é ali que devem continuar.
– Que perspectivas estão abertas para que o acervo de Augusto Boal permaneça no Brasil?
Cecília Boal: Comuniquei a Universidade Federal do Rio de Janeiro que gostaria que eles tivessem a guarda e ao ministro da Educação, Fernando Haddad, que gostaria de conversar com ele. A UFRJ se mostrou muito interessada e o ministro me telefonou, pedindo que a UFRJ mandasse um projeto nesse sentido que ele o apoiaria.  Faria o maior sentido Boal permanecer na UFRJ e, mais precisamente, na Praia Vermelha. Foi lá que ele obteve um diploma de engenharia química antes de se dedicar ao teatro.
– O que há de concreto no oferecimento do Ministro da Educação, Fernando Haddad, da disposição do governo brasileiro de fornecer as condições para que o acervo permaneça no Brasil?
Cecília Boal: Agora a bola está no nosso campo, nos é que temos que enviar um projeto para o Haddad. Acontece que temos que agir com muita rapidez. Todos os itens do arquivo estão em condições avançadas de deterioração: cartas, fotos, fitas VHS, etc. Penso que muitas coisas terão que ser definidas nos próximos seis meses.
A imprensa falou em novo exilio e repatriamento. Não deixa de ser isso, de uma certa maneira. Mas as condições têm que ser criadas para que alguém volte para casa e possa nela ficar. A obra do Boal hoje pertence a todos aqueles que se interessam por ela no mundo e o nosso desejo e a nossa vontade como família é que todos possam usufruir desse legado. Hoje em dia, com as condições que as novas tecnologias nos oferecem, não tem sentido deixar um acervo se perder e se estragar. Estamos confiantes e acreditando que o governo atual fará todo o possível para que este acervo seja bem cuidado.
 www.cartamaior.com.br

Recebemos a informação da existencia desta rede atraves de Cora Fairstein, praticante de teatro do oprimido en Buenos Aires:
Teatro del Oprimido en Uruguay: Queremos compartir desde Argentina que desde el 20/08 al 23/08 estaremos multiplicando el Laboratorio Magdalenas, Teatro del Las Oprimidas en la ciudad de Montevideo. Luego de la multiplicación realizada en Buenos Aires nos vamos a Uruguay a seguir investigando nuestras opresiones más allá de la profesión, raza o la cultura a la que pertenecemos. A nuestro regreso compartiremos fotos y experiencias. Cora Fairstein (Grupo Rizoma, y Grupo Casonero de TO, Buenos Aires).
Red RelatoSur: Desde el año 2007 muchos grupos que trabajamos con TO en Latinoamérica creamos una red en internet en la cual vamos compartiendo nustros trabajos y organizando encuentros con el objetivo de fortalecer el Teatro del Oprimido en la región. Fue a través de esta red que concretamos un encuentro con Sanjoy y Sima Ganguly (representantes de Jana Sanskriti) en Buenos Aires en julio de 2009, y en enero de 2010 gestionamos el 1er Encuentro Latinoamericano de Teatro del Oprimido en Jujuy, República Argentina. Actualmente se está armando el 2do Encuentro Latinoamericano, que se realizará en Guatemala en enero de 2012. Quienes lo deseen pueden sumarse a esta red y contactarse con muchos grupos y organizaciones. Cora Fairstein (Grupo Rizoma, y Grupo Casonero de TO, Buenos Aires).
Biblioteca Augusto Boal: Queremos compartir, con mucho orgullo y placer, que el día  30/07 realizamos la primera Biblioteca Augusto Boal. El objetivo de este evento fue promover la obra de  Boal socializando mucho material teórico inédito en Argentina (principalmente de TO, pero compartimos también material de Educación Popular y algunas corrientes teatrales afines con la metodología) . Hubo espacios de lectura en soledad,  mostramos material en video, e hicimos mesas de debate en torno a tres ejes: TO y educación Popular, Árbol de TO y Estética del Oprimido. No solamente vino mucha gente sino que pudimos enriquecernos con debates y miradas  Nos quedamos con muchas ganas de repetirlo! Quien quiera ver fotos puede buscarnos en facebook como “Grupo de Teatro del Oprimido de la Casona Cultural Humahuaca”. También puden sugerirnos publicaciones para la próxima edición.  Cora Fairstein (Grupo Rizoma Y Grupo Casonero de TO, Buenos Aires). 



O brasileiro come veneno
veja ao final os links para assistir o fime.
O documentarista Silvio Tendler fala sobre seu filme/denúncia contra os rumos do modelo adotado na agricultura brasileira
01/08/2011- Jornal BRASIL DE FATO
Aline Scarso,
da Redação
Silvio Tendler é um especialista emdocumentar a história brasileira. Já o fez apartir de João Goulart, Juscelino Kubitschek,Carlos Mariguela, Milton Santos, Glauber Rocha e outros nomes importantes. Em seu último documentário, Silvio não define nenhum personagemem particular, mas dá o alerta para uma grave questão que atualmente afeta a vida e a saúde dos brasileiros: o envenenamento a partir dos alimentos.
Em O veneno está na mesa, lançado na segunda-feira (25) no Rio de Janeiro, o documentarista mostra que o Brasil está envenenando diariamente sua população a partir do uso abusivo de agrotóxicosnos alimentos. Em um ranking para se envergonhar, o brasileiro é o que mais consome agrotóxico em todo o mundo, sendo 5,2 litros a cada ano por habitante. As consequências, como mostra o documetário, são desastrosas.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Silvio Tendler diz que o problema está no modelo de de
senvolvimento brasileiro. E seu filme, que também é um produto da Campanha Permanente Contraos Agrotóxicos e pela Vida, capitaneada por uma dezena de movimentos sociais, nos leva a uma reflexão sobre os rumos desse modelo. Confira.
Brasil de Fato – Você que é um especialista em registrar a história do Brasil, por que resolveu documentar o impacto dosagrotóxicos sobre a agricultura e não um outro tema nacional?
Silvio Tendler – Porque a partir deagora estou querendo discutir o futuro e não mais o passado. Eu tenho todo o respeito pelo passado, adoro os filmes que fiz, adoro minha obra. Aliás, meus filmes não são voltados para o passado, são voltados para uma reflexão que ajuda a construir o presente e, de uma certa forma, o futuro. Mas estou muito preocupado. Na verdade esse filme nasceu de uma conversa minha com [o jornalista eescritor] Eduardo Galeano em Montevidéu [no Uruguai] há uns dois anos atrás, em que discutíamos o mundo, o futuro, a vida. E o Galeano estava muito preocupado porque o Brasil é o país que mais consumia agrotóxico no mundo. O mundo está sendo completamente intoxicado por uma indústria absolutamente desnecessária e gananciosa, cujo único objetivo realmente é ganhar dinheiro. Quer dizer, não tem nenhum sentido para a humanidade que justifique isso que está se fazendo com os seres humanos e a própria terra. A partir daí resolvi trabalhar essa questão. Conversei com o João PedroStédile [coordenador do Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra], e ele disse que estavam preocupados comisso também. Por coincidência, surgiu a Campanha permanente contra os Agrotóxicos, movida por muitas entidades, todas absolutamente muito respeitadase respeitáveis. Fizemos a parceria e o filme fi cou pronto. É um filme que vai ter desdobramentos, porque eu agora quero trabalhar essas questões.
Então seus próximos do cumentários deverão tratar desse tema?
Pra você ter uma ideia, no contrato inicialdesse documentário consta que ele seria feito em 26 minutos, mas é muita coisa pra falar. Então ficou em 50 [minutos]. E as pessoas quando viram o filme, ao invés de me dizerem ‘está muito longo’, disseram ‘está curto, você tem quefalar mais’. Quer dizer, tem que discutir outras questões, e aí eu me entusiasmei com essa ideia e estou querendo discutir temas conexos à destruição do planeta por conta de um modelo de desenvolvimento perverso que está sendo adotado. Uma questão para ser discutida deforma urgente, que é conexa a esse filme, é o agronegócio. É o modelo de desenvolvimento brasileiro. Quer dizer, porque colocar os trabalhadores para fora da terra deles para que vivam de forma absolutamente marginal, provocando o inchaço das cidades e a perda de qualidadede vida para todo mundo, já que no espaço onde moravam cinco, vão morar 15? Por que se plantou no Brasil esse modelo que expulsa as pessoas da terra para concentrar a propriedade rural em poucas mãos, esse modelo de desenvolvimento, todo ele mecanizado, industrializado, desempregando mão de obra para que algumas pessoas tenham um lucro absurdo? E tudo está vinculado à exploração predatória da terra. Por que nós temos que desenvolver o mundo, a terra, o Brasil em função do lucro e não dos direitos do homem e da natureza? Essas são as questões que quero discutir.
Você também mostrou que até mesmo os trabalhadores que não foram expulsos do campo estão morrendo por aplicar em agrotóxicos nas plantações. O impacto na saúde dessesagricultores é muito grande…
 É mais grave que isso. Na verdade, o cara é obrigado a usar o agrotóxico. Se ele não usar o agrotóxico, ele não recebeo crédito do banco. O banco não financia a agricultura sem agrotóxico. Inclusive tem um camponês que fala isso no filme, o Adonai. Ele conta que no dia em que o inspetor do banco vai à plantação verificar se ele comprou os produtos, se você não tiver as notas da semente transgênica, do herbicida, etc, você é obrigado a devolver o dinheiro. Então não é verdade que se dá ao camponês agricultor o direito de dizer ‘não quero plantar transgênico’, ‘não quero trabalhar com herbicidas’, ‘quero trabalhar com agricultura orgânica, natural’. Porque para o banco, a garantia de que a safra vai vingar não é o trabalho do camponês e a sua relação com a terra, são os produtos químicos que são usados para afastar as pestes, afastar pragas. Esse modelo está completamente errado. O camponês não tem nenhum tipo de crédito alternativo, que dê a ele o direito de fazer um outro tipo de agricultura. E aí você deixa as pessoas morrendo como empregadas do agronegócio, como tem o Vanderlei, que é mostrado no filme. Depois de três anos fazendo a tal da mistura dos agrotóxicos, morreu de uma hepatopatia grave. Tem outra senhora de 32 anos que está ficando totalmente paralítica por conta do trabalho dela com agrotóxico na lavoura do fumo.
A impressão que dá é que osbrasileiros estão se envenenandosem saber. Você acha que o fi lmepode contribuir para colocar oassunto em discussão?
 Eu acho que a discussão é exatamente essa, a discussão é política. Eu, de uma certa maneira, despolitizei propositadamente o documentário. Eu não queria fazer um discurso em defesa da reforma agrária ou contra o agronegócio para não politizar a questão, para não parecer que, na verdade, a gente não quer comer bem, a gente quer dividir a terra. Esão duas coisas que, apesar de conexas, eu não quis abordar. Eu não quis, digamos assustar a classe média. Eu só estou mostrando os malefícios que o agrotóxico provoca na vida da gente para quea classe média se convença que tem quelutar contra os agrotóxicos, que é uma luta que não é individual, é uma luta coletiva e política. Tem muita gente que parte do princípio ‘ah, então já sei, perto daminha casa tem uma feirinha orgânica eeu vou me virar e comer lá’, porque são pessoas que têm maior poder aquisitivo e poderiam comprar. Mas a questão não é essa. A questão é política porque o agrotóxico está infiltrado no nosso cotidiano, entendeu? Queira você ou não, o agrotóxicochega à sua mesa através do pão, da pizza, do macarrão. O trigo é um trigo transgênico e chega a ser tratado com até oito cargas de pulverizador por ano. Você vai na pizzaria comer uma pizza deliciosa e aquilo ali tem transgênico. O que você está comendo na sua mesa é veneno. Isso independe de você. Hoje nada escapa. Então, ou você vai ser um monge recluso, plantando sua hortinha e sua terrinha, ou se você é uma pessoa que vai ficar exposta a isso e será obrigada a consumir.
Como você avalia o governo Dilma a partir dessa política de isenção fiscal para o uso de agrotóxico no campo brasileiro?
Deixa eu te falar, o governo Dilma está começando agora, não tem nenhum ano, então não dá para responsabilizá-la por essa política. Na verdade esse filme vai servir de alerta para ela também. Muitas das coisas que são ditas no filme, eles [o governo] não têm consciência. Esse filme não é para se vingar de ninguém. É para alertar. Quer dizer, na verdade você mora em Brasília, você está longe do mundo, e alguém diz para você ‘ah, isso é frescura da esquerda, esse problema não existe’, e os relatórios que colocam na sua mesa omitem as pessoas que estão morrendo por lidar diretamente com agrotóxico. [As mortes] vão todas para as vírgulas das estatísticas, entendeu? Acho que está na hora de mostrar que muitas vidas não seriam sacrificadas se a gente partisse para um modelo de agricultura mais humano, mais baseado nos insumos naturais, no manejo da terra, ao invés de intoxicar com veneno os rios, os lagos, os açudes, as pessoas, as crianças que vivemem volta, entendeu? Eu acho que seria ótimo se esse filme chegasse nas mãos da presidenta e ela pudesse tomar consciência desse modelo que nós estamos vivendo e, a partir daí, começasse a mudar as políticas.
No documentário você optoupor não falar com as empresasprodutoras de agrotóxicos. Essa ideia fi cou para um outrodocumentário?
 É porque eu não quis fazer um filme que abrisse uma discussão técnica. Se as empresas reclamarem muito e pedirem para falar, eu ouço. Eu já recebi alguns pedidos e deixei as portas abertas. No Ceará eu filmei um cara que trabalha com gado leiteiro que estava morrendo contaminado por causa de uma empresa vizinha. Eu filmei, a empresa vizinha reclamou e eu deixei a porta aberta, dizendo ‘tudo bem, então vamos trabalharem breve isso num outro filme’. Se as empresas que manipulam e produzemagrotóxico me chamarem para conversar, eu vou. E vou me basear cientificamente na questão porque eles também são craques em enrolar. Querem comprovar que você está comendo veneno e tudo bem (risos). E eu preciso de subsídios para dizer que não, que aquele veneno não é necessário para a minha vida. Nesse primeiro momento, eu quis botar a discussão na mesa. Algumas pessoas já começaram a me assustar, ‘você vai tomar processo’, mas eu estou na vida para viver. Se o cara quiser me processar por um documentário no qualeu falei a verdade, ele processa pois tem o direito. Agora, eu tenho direito como cineasta, de dizer o que eu penso.
Esse filme será lançado somente no Rio ou em outras capitais também?
Eu estou convidado também para ir para Pernambuco em setembro, mas o filme pode acontecer independente de mim. Esse filme está saindo com o selinho de ‘copie e distribua’. Ele não será vendido. A gente vai fazer algumas cópias e distribuir dentro do sentido de multiplicação, no qual as pessoas recebem as cópias, fazem novas e as distribuem. O ideal é que cada entidade, e são mais de 20 bancando a Campanha, consiga distribuir pelo menos mil unidades. De cara você tem 20 mil cópias paraserem distribuídas. E depois nós temos os estudantes, os movimentos sociaise sindicais, os professores. Vai ser uma discussão no Brasil. Temos que levaresse documentário para Brasília, para o Congresso, para a presidenta da República, para o ministro da Agricultura, para o Ibama. Todo mundo tem que veresse filme.
E expectativa é boa então?
Sim. Eu sou um otimista. Sempre fui.
Foto: Gabriela Nehring
O FILME  “O VENENO ESTÁ NA MESA.”
Segue os links do filme “O veneno esta na mesa” do cineasta Silvio Tendler.
Documentário denuncia a problemática causada pelos agrotóxicos, e faz parte de um
conjunto de materiais elaborados pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
http://www.youtube.com/watch?v=WYUn7Q5cpJ8&NR=1    Parte 1
 
 
http://www.youtube.com/watch?v=NdBmSkVHu2s&feature=related    Parte 2 
http://www.youtube.com/watch?v=5EBJKZfZSlc&feature=related     Parte 3
http://www.youtube.com/watch?v=AdD3VPCXWJA&feature=related   Parte 4