Augusto Boal

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ENTRE O TEATRO E A VIDA
AUGUSTO BOAL
(texto incluído no livro O Teatro e a Cidade, editado por Sérgio de Carvalho)
Eu vou falar do Teatro do Oprimido como um teatro limite, como um trabalho que está dos dois lados da fronteira, entre a ficção e a realidade. E vou fazer isso de uma forma aberta, inconclusa, misturando a leitura de alguns trechos de um artigo que está em esboço com o relato de algumas experiências que podem alimentar o nosso debate. Vocês olhem para mim como se eu fosse um pintor rabiscando um quadro futuro. Nas linhas gerais vocês imaginem a pintura possível. (mais…)

Cecília Boal bate um papo com Aderbal Freire-Filho

Teatro e ação social são temas da conversa sobre o dramaturgo Augusto Boal

Aderbal Freire-Filho recebe Cecilia Boal no Arte do ArtistaReconhecido internacionalmente como um dos grandes encenadores do século vinte, o brasileiro Augusto Boal definiu o teatro de várias formas: salvação, invenção do futuro, expressão natural do homem, fórum e até arte marcial.
Para falar sobre o mestre e sua obra, o Arte do Artista desta semana recebe Cecilia Boal, companheira de toda a vida, que luta, há anos, pela preservação do acervo do criador doTeatro do Oprimido, que alia teatro e ação social.
Sempre ao lado do marido, nas suas inúmeras aventuras e desventuras, ela concede uma entrevista histórica, a Aderbal Freire-Filho, rememorando momentos fundamentais tanto do teatro quanto da cultura nacional, a começar pela fundação do Teatro Oficina, na década de 1960.

Horário(s) do Programa
Nacional
Quarta à 01:30
Segunda às 23:00
RJ
Quarta à 01:30

http://tvbrasil.ebc.com.br/artedoartista

Queremos agradecer a Vivian Martinez Tabares, diretora da revista cubana Conjunto, de Casa de las Americas , o envio deste texto e de outros textos igualmente preciosos, que iremos publicando no nosso blog.

CATEGORIAS DEL TEATRO POPULAR
Augusto Boal
La continua lucha de las élites contra el pueblo determina, en el ámbito del teatro, una continua lucha de ciertas élites intectuales contra el teatro popular. Esta lucha terminará solamente con la victoria del pueblo en el ámbito más general de la sociedad.
(mais…)

Querida Cecília,
Quero te dizer da minha emoção ao ler “Hamlet e o
filho do padeiro”. O livro me acompanhou dias seguidos,
principalmente quando acordava no meio da madrugada me
questionando sobre a vida, se estou no caminho certo, etc,
etc. Era muito bom então pegar o livro e ver como o Boal,
apesar de tantas dúvidas, incertezas e desvios de rota,
conseguiu construir seu caminho com uma inteireza que é
uma inspiração para todos nós.
Além disso, o livro é saboroso, dá vontade de morder
como uma fruta madura! E que delícia o humor constante,
que aparece mesmo nas situações tristes. Ele nos lembra
que a vida é essa coisa bagunçada, em que as coisas
nunca têm só um significado.
Fui lendo bem devagarzinho, mas não teve jeito, acabei
terminando. Não tem importância, ele agora vai prá
estante dos livros que releio muitas e muitas vezes, sempre
descobrindo novos sentidos para o viver.
Tenho imensa gratidão por ter convivido neste planetinha
no mesmo tempo que você e ele.
Um grande beijo,
Noni

Texto de Luiz Vaz, do livro “Literatura e Medicina. Uma Experiência de Ensino”  (Ed. Livros Ilimitados, 2014)
Convidado para escrever esse texto, logo me ocorreu um fato. Passemos então direto ao relato: na terrível enchente de 1987, eu era animador cultural de uma escola no Rio de Janeiro e, como voluntário, me uni a outros animadores, com aquilo que julgávamos ser nossa melhor contribuição, promover atividades culturais, e nos colocamos a serviço das vítimas da chuva que se encontravam abrigadas nas escolas onde atuávamos. Montamos uma peça teatral, Mágoas de Março, que pretendia repensar artisticamente, com crítica e criatividade, a situação recorrente das enchentes, da torrente de vítimas, da avalanche de descasos. Bem na linha do Teatro Denúncia.
Aos 25 anos, recém-saído de uma oficina com o famoso homem de teatro, Augusto Boal, e sem compreender ainda muito bem sua proposta mais conhecida e difundida no mundo, a Metodologia do Teatro do Oprimido, foi o que na posição de um estreante em direção teatral pude desenvolver. Essa apresentação foi vista pelo querido e saudoso ator Francisco Milani, num evento que reunia abrigados de diversas escolas do Rio numa Lona Cultural na Ilha do Governador. O ator foi categórico na sua crítica ao nosso esquete teatral: “Não se opera um cérebro numa oficina!”. Só depois pude conhecer melhor os fundamentos da sua crítica, por meio das posições marxistas sobre a arte e o quanto, o que delas conseguiu se entender, estava impregnada na fala do ator que na época exercia um cargo político por indicação do seu partido, o PCB do qual fora membro histórico.
A crítica mexeu comigo. Chegando em casa, conversei com o meu irmão mais velho, formado há alguns anos em medicina, e de tudo que eu relatei, o que ele me devolveu foi em resposta à enigmática frase do Milani: “Se for necessário, sim, pode-se operar um cérebro numa oficina!”
SOBRE A “FUNÇÃO” DA ARTE
Sobre a utilidade da arte, hoje, entendo, não há UMA utilidade! Não usamos a arte. Dela fruímos, usufruímos por poros, retinas, membranas auriculares, pela constelação de neurônios que há dentro de nós e, pelas de nós emanadas auras de memórias e afetos. O nosso idioma é uma linguagem, como linguagem é vivo e sofre ou goza de transformações permanentes, mas, está sempre com a sua principal função resgatada: sua utilidade é comunicar.
A publicidade é uma forma de comunicação, ela até se utiliza de recursos artísticos para surpreender os sentidos e inspirar o desejo, mas sendo pragmática como é, é uma forma de comunicação. Já a arte, puro desejo de fruição, de provocar gozo estético, até pode comunicar, mas, suas linguagens (plásticas, cênicas, audiovisuais, musicais e outras), e em cada uma delas sua permanente transformação da própria linguagem, destitui de si a comunicação como seu primordial compromisso, porque atinge ou não uma determinada pessoa, e diferentes pessoas por ela arrebatadas fruem de sensações diferentes. Não só a arte produz fruição. Sua maior inspiradora, a natureza também faz isso. Um crepúsculo alaranjado após uma tarde de chuva sob um belo arco íris é pura fruição, para isso precisa de seu apreciador atento, este uma pessoa renovada, em estado de graça por viver este momento.
Vale então dizer que a arte é uma tentativa permanente do ser humano de provocar este efeito fenomenal, para isso usa de meios de realização, de técnicas, de conhecimento, de metodologia que, juntando-se aos acasos e aos surtos de imaginação, podem provocar esta sensação que ainda que impulsionada por um desejo racional, mantém suas características de fenômeno especial e ímpar. A produção artística se ampara na inspiração ou na conspiração, inspira-se ao tentar reproduzir algo que a natureza, a realidade ou outra obra artística tenha em algum momento oferecido e queiramos trazer de volta com outro corpo, um corpo novo.
Conspira-se quando, por inconformismo, pretende-se preencher o que consideramos falha ou falta na criação suprema com o amálgama da arte. Criamos por um desejo urgente de colocar no mundo algo de que sentimos falta, mesmo que, a princípio, solitários como artistas criadores, só nós pressintamos essa falta. Neste momento a arte aparece como denúncia.
Sim! A arte comunica, mas, não é comunicação. Comunica assim como um fenômeno celeste ou um acidente de trânsito comunicam. Se não há trânsito seguro entre a emissão e a recepção, o que, aliás, não é fato tão certo nem mesmo na comunicação, a função da arte definitivamente não é a de comunicabilidade, por mais que esta seja a pretensão do criador artístico.
A ARTE NÃO É COMUNICAÇÃO, MAS CURA?
O meu mestre teatral, com muito orgulho, que privilégio meu! Augusto Boal, foi um dia chamado para inaugurar com sua fala um Congresso Mundial de Terapeutas (psicodramatistas), e nos contou como reagiu, dizendo que por não ser um Terapeuta, via-se constrangido em inaugurar oficialmente o congresso. A organizadora do evento rebateu de pronto: “Boal, você não é Terapeuta, mas, é certamente Terapêutico!”
Cabe aqui comentar que Boal criou entre outras coisas um método de Teatro e Terapia chamado O Arco Íris do Desejo, já no nome, pura poesia, pura fruição. Hoje leciono uma disciplina de Linguagens Artísticas no curso universitário de Musicoterapia e compreendo melhor essa relação entre arte e processos de cura, e é bastante intrigante pensar que o que já está totalmente referendado pela ciência quanto aos poderes da arte, ainda nos é negado no cotidiano, com baixo estímulo, poucas escolas de artes, uma presença ainda muito tímida das artes, seja no fazer ou apreciar, nos ambientes, familiar, comunitário e mesmo escolar. É como se antes reconhecêssemos a importância do “remédio” quando ainda lhe negamos sua importância como provento, como alimento, como prevenção.
Ainda bem que a arte não preconiza verdades, como essencialmente fazem a ciência e a religião. A arte erra, pois é um caminhante sem uma tese a perseguir, tendo sempre um lugar novo a percorrer e, por isso, é capaz de estimular e contaminar -que assim seja! – as atividades científicas e religiosas. Seu campo de atuação é mesmo outro, o de um descompromisso compromissado, uma desnecessária urgência, algo ao alcance e ao poder de todos, nas poesias engavetadas, nos grafismos nos cantos dos cadernos, em preciosos livros, nas rodas de artistas de ruas, em gigantescos palcos, pequenas galerias e portentosos museus.
A luz de onde se originam os efeitos espectrais das cores é a existência física das cores, elas não vêm prontas em potes, só se encantam com a luz. Os sons não existem sem a sensibilização das nossas membranas auriculares, capazes de percebê-lo com o movimento do ar, o produto final da arte não é peça que o absorto escultor acabou de apresentar ao mundo, mas, a imaterial sensação de encantamento do seu apreciador. Parla! E a poesia não está na palavra escrita, mas, no que de súbito salta dela quando a vemos conjugada com os nossos afetos. É nessa função extra essencial da Arte que ela é uma importante aliada das ciências, das humanidades, e aqui, como cabe falar, em especial da Medicina. O Teatro usa palavras como Laboratório na sua terminologia, a Medicina usa o termo Teatro ao se referir a organização do espaço para uma operação, e o Teatro de Operações nos faz pensar que em tempos de guerra podemos, e até mesmo devemos, operar um cérebro numa oficina!
Especialmente se for uma oficina de teatro.

Recentemente a psicologia, que é a minha praia , tomou emprestado um termo da física para descrever a capacidade de sobreviver a fortes abalos psíquicos, às situações traumáticas.
Resiliência, para a física, é uma caraterística mecânica que define a resistência aos choques.
É a tradução elegante de um ditado popular, a forma chique de dizer que alguém é capaz de fazer de um limão uma limonada. (mais…)

Esta peça foi encontrada no computador pessoal de Augusto Boal, em uma pasta chamada “No Estaleiro” – o que leva a crer que se tratava de textos cujo trabalho ele pretendia retomar.
Acesse a peça, neste arquivo: No Brasil é Assim Mesmo

Texto de apresentação da peça A Família, de Augusto Boal, escrito por Cecília Boal. A seguir, acesse textos de apresentação de Noeli Turle (Lico) e Eucanaã Ferraz e a peça propriamente dita.
No ano de 1987, voltamos a morar no Rio, a convite de Darcy Ribeiro. Nosso primeiro trabalho foi na Secretaria de Educação, com os animadores culturais dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), e era num Ciep onde nos reuníamos, com a coordenação de Maria Libia e assistidos por Rosa Luisa Marquez, a nossa amiga de Puerto Rico.
Foi um trabalho inesquecível, muito divertido. Formamos uma grande comunidade. Havia muitos animadores, vindos de toda parte: São João de Merity, São Gonçalo, Duque de Caixas. E todos, eles e nós, tomados pelo mesmo entusiasmo. Criamos vários textos de Teatro Fórum e viajamos fazendo apresentações nos diversos Cieps do Estado.
Um deles, A família, era um foro de grande sucesso; era o preferido do público para o debate. O público sempre era muito numeroso e o debate muito intenso.
Rosa Luisa e eu éramos os coringas, Rosa pontuando as intervenções com um imenso gongo; Fabian improvisando iluminações. Todas as apresentações terminavam sempre com comida, muita comida oferecida pelos Cieps, no refeitório.
Um tempo bonito, proveitoso e divertido. Pensando junto com os participantes da cena e do público alternativas para situações de conflito, porém sem deixar nunca de brincar e nos divertir.
“Pensar brincando, brincar sem deixar de pensar” definem para mim o estilo do Boal. Não desistir, não se resignar , não se deixar invadir por um sentimento de impotência – geravam nessa grande equipe um desejo muito forte de continuar trabalhando em qualquer condição.
Família – Lico Turle
Holanda, uma experiência com o Teatro do Oprimido – Eucanaã Ferraz
Teatro Fórum – A Família

Confira no link a seguir o discurso feito por Augusto Boal no Fórum Social Mundial realizado em 2009, em Belém (PA).
Discurso de Augusto Boal em Belém

Miguel TorresArtigo de Iván Bernal Marín sobre o diretor teatral colombiano Miguel Torres. Publicado originalmente na revista Dominical, El Heraldo
Entre hilos de humo, Miguel Torres recuerda bombazos secos, estampidas histéricas y tanques de guerra disparándole al Palacio de Justicia.
Los ojos al vacío, y la mente hundida en imágenes y ruidos de 1985. “Es una obra que creo que es necesaria. Hay mucha gente que no la ha visto, un público nuevo”. Aplasta la colilla contra el cenicero, y mientras se desgajan las últimas hebras grises lo anuncia: revivirá La Siempreviva. (mais…)