Blog
É com grande satisfação que o Instituto Augusto Boal comunica que, por iniciativa da curadora Guiomar Lagrammont, será realizada, no dia 23 de março, no Salão do Livro de Paris, uma homenagem ao teatrólogo brasileiro Augusto Boal.
Participarão do evento o teórico de teatro Olivier Neveux, professor da universidade da Sorbonne, e os atores Maurice Durozier, Eve Doé-Bruce e Aline Borsari, membros do Théâtre de Soleil, que farão a leitura para o público de uma entrevista dada por Boal na França durante os anos do seu exílio.
Cabe ressaltar que o Brasil é o país homenageado nesta edição 2015 do Salon du Livre.
A entrevista que será lida durante o evento está disponível no blog.
PARA HELENA , SERGIO e JULIAN
OS QUE FICAM
Somos os que ficam, os que ficam porque não morremos ou não nos mataram ou não fomos embora, não desaparecemos
E temos uma p… responsabilidade
A responsabilidade de contar a historia, a responsabilidade da transmissão
E que mais?? retomar o jogo? botar a bola para rolar de novo??
Os que ficam …e agora que…????
vcs jogaram essa batata quente sobre todos nos
Vc, Sergio, Helena e Julian
Amo vcs e gostaria que todo mundo saiba disso
Agora quem está chorando sou eu
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=W3czsEHiHS8&w=560&h=315]
Canção do espetáculo OS QUE FICAM (2015), sobre a trajetória de exilados políticos nos anos 1970, apresentado no quadro da exposição Augusto Boal, no CCBB do Rio de Janeiro.
Música de Martin Eikmeier, letra de Sérgio de Carvalho.
Por Rafael Villas Bôas
Professor da UnB
O que testemunhei ontem, no primeiro dia da ação de despejo do Acampamento Dom Tomás Balduíno, merece ser compartilhado: um claro exemplo de que, na luta pela terra, nem sempre um passo atrás significa a derrota, mas apenas um impulso para consolidar a vitória vindoura.
O grupo da UnB, formado pelos professores Erlando Reses, da Faculdade de Educação, Luis Carlos Galetti, do Instituto de Ciências Sociais, Rafael Villas Bôas, da Educação do Campo, e pelo doutorando da Faculdade de Comunicação, Felipe Canova, saiu de Brasília de madrugada para acompanhar a ação de despejo. Pela magnitude da ação, que envolve mais de mil e quinhentos policiais para despejar três mil famílias sem terra, todos ali sabiam que o desenlace poderia acabar em tragédia. Na assembleia geral do acampamento, por unanimidade, todos concordaram que naquela conjuntura, após terem resistido por meses com ameaça constante de despejo, naquele momento não havia condição para resistência. (mais…)
Via Revue Période
Si le « théâtre forum » est aujourd’hui une pratique largement connue, investie pour tous types d’objectifs, militants, associatifs, voire récupérée par certaines pratiques managériales, son inventeur, Augusto Boal, était un militant révolutionnaire. Dans l’entretien à venir, issue d’un chapitre inédit de Jeux pour acteurs et non-acteurs, Boal revient sur la trajectoire du théâtre populaire et révolutionnaire en Amérique latine, ainsi que ses liens avec les procédés et méthodes d’avant-garde ou européennes. Il défend une figure de l’artiste comme entité collective, non spécialisée, capable de s’adapter aux réalités sociales et d’inventer les procédés d’un théâtre émancipé. (mais…)
Por Natalia Conti, via Blog Convergência
A Mostra Augusto Boal, sediada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro desde o dia 13 de Janeiro de 2015, traz aos palcos, murais, vozes, aquela que foi uma das principais figuras do teatro brasileiro. A amarração de vários campos – música, cinema, leituras, oficinas teatrais, fotografia – faz da mostra uma antessala para quem quer chegar mais perto, e serve de convite para a iniciação/aprofundamento no conhecimento teatral do dramaturgo que levou a sério a necessidade de desdobrar o programa político-estético-método Brecht.
A começar pela compilação de nomes fortes do teatro épico no Brasil, a largada é dada pela Companhia do Latão, encenando a peça Os que ficam, que trabalha textos da autoria de Boal e apresentam questões ao público – como é de costume do grupo – atuais para pensar o nosso lugar frente aos problemas políticos e sociais do país, o nosso lugar como atores. Para isso, misturam as trajetórias familiares de luta contra a ditadura, alguns se apresentando como filhos de militantes de política e de teatro; a leitura por Julian Boal de cartas de seu pai aos seus companheiros de trabalho no Brasil, desde o exílio; uma dura crítica à produção mercantil de arte na televisão, e a instrumentalização do trabalho do ator neste espaço; e questões que são de ontem e se mostram gritantes, de hoje, como a fragmentação da esquerda e a necessidade de pensar a política estratégica.
O grupo bota no palco a atualidade de Boal, de sua Revolução na América do Sul, da luta pela memória – em tempo de Caravanas da Anistia e Comissão da Verdade – e apresenta o teatro como chave para a abertura de caminho de transformação e emancipação. Com ares ainda quentes de sua Ópera dos Vivos, da qual ainda podemos sentir os cheiros, o Latão encena respostas possíveis, sem encerrá-las conclusivamente, remetendo ao expect-ator, como gostava de chamar Boal, a responsabilidade e inquietação de pensar o próprio papel.
Quando adentramos o salão da exposição, vemos projetadas as fotos conhecidas das encenações do Teatro de Arena de São Paulo e Rio de Janeiro. Arena conta muitas coisas, Show Opinião, e tudo o que figura no imaginário do teatro político da década de 1960. Vendo os materiais produzidos por Boal – disponíveis para leitura na sala – percebemos que era alguém que costurava finamente as necessidades da vida com o desenvolvimento da técnica teatral, correndo distante de uma concepção da arte pela arte. O teatro do Oprimido, política poética desenvolvida por Boal ao longo de décadas de trabalho com grupos de vários países do mundo, nos dá a possibilidade de aproximar ainda mais a arte da vida, sobretudo da política e dos modos de vida, quando coloca no papel de ator todo e qualquer homem e mulher que têm questões e vive problemas coletivos. Tira do âmbito privado os problemas e, em praça pública de qualquer viela e rincão, de qualquer país do mundo, de Moçambique à Áustria, do Chile à Índia, pergunta aos expectadores qual é o problema. Há alguma coisa nessa cena que podemos mudar? Como podemos faze-lo?
Os vídeos que apresentam o impacto d’O teatro do Oprimido no mundo todo evidenciam o seu caráter político e a sua vivacidade. Boal era não só um Brechtiano ortodoxo, mas arrojado e inventivo, por não levar a algum lugar a voz dos oprimidos e explorados, mas criar ferramenta para que estes mesmos o fizessem, e representassem as possibilidades de suas vidas cotidianas, de seus enfrentamentos de classe. Um vídeo chama bastante atenção, de Moçambique, onde um grupo de uma comunidade encena uma situação em que uma mulher faz o teste de HIV e se descobre soropositiva, e tenta convencer o companheiro de que este tem também de fazer o teste, ao que é negado. A ferramenta incorpora as vozes da própria comunidade para resolver o nó apresentado, e funciona como espécie de peça-didática para a educação de seus pares.
Outro elemento importante da mostra é a voz de Juçara Marçal, que representa a potência de uma nova geração de músicos paulistanos cantando o Zumbi do Arena e de Boal, consonante com o som de Metá Metá. Fechando os olhos ou olhando bem fundo, ouvimos em sua voz o terreiro de seu disco Encarnado se misturar ao terreiro de Maria Bethania no show Opinião, ou em Arena conta a Bahia. Coisas que só ouvindo para entender.
Por fim, as demais atividades que confluem a Mostra dão um tom de movimento, de coisa viva, pedindo para ser assumida e reinventada. Boal era um homem de movimento, além de gente de teatro. E seu legado ao teatro e aos oprimidos/explorados do mundo inteiro é uma ferramenta política e estética potente de questionamento, elaboração coletiva e possibilidade de forjar sujeitos de si e da História, com H maiúsculo.
por Rafael Villas Bôas
Professor da UnB, coordenador do Coletivo Terra em Cena e do grupo de pesquisa Modos de Produção e Antagonismos Sociais
De tudo que se possa dizer de Augusto Boal, talvez uma das inegáveis e menos polêmicas afirmações seja a de que ele foi um homem disposto a correr riscos e a aprender com as derrotas. Imbuído do espírito dialético que cabe a um homem de esquerda e da disciplina metodológica que talvez tenha aprendido da Química, sua primeira profissão, Boal soube dar respostas críticas às derrotas que o lado que optou por lutar sofreu ao longo de seu tempo histórico.
A formulação do Teatro do Oprimido pode ser entendida como uma resposta às rupturas e traumas que a ditatura civil-militar impôs ao Brasil em 1964. Uma tentativa de ativar uma metodologia de formação revolucionária, cujo estopim é a experiência de exploração dos oprimidos, visando a construção do poder popular. Isso num contexto de vitória da contrarrevolução!
Boal manteve, portanto, seu trabalho em rota de radicalização permanente, mesmo quando o horizonte revolucionário tinha se fechado e a realidade empurrava seus colegas de ofício para a indústria cultural. A maioria foi trabalhar na Globo.
Luta política e artística se faz de opções. Sempre. Esse é o legado de Boal, de Cecília Thumin Boal, de Julian Boal, e daqueles que se dispõem a farejar os rumos políticos de uma ação contra-hegemônica no presente.
O Teatro do Oprimido, hoje em dia, tem muitos desafios se quiser seguir os rumos abertos por quem o construiu. Ele pode procurar sempre pelos sujeitos coletivos que organizam movimentos e processos de contestaçao da ordem, e se tornar um elemento importante para a estratégia dessas organizações, como ocorreu com o MST ao se apropriar da metodologia do Teatro do Oprimido e multiplicá-la amplamente por acampamentos e assentamentos em todo o território nacional. Ou, ele pode se adequar às necessidades de sobrevivência daqueles que optaram por trabalhar com o método. Não há problema nisso, é legitimo, mas há riscos, muitos, e precisamos ter total consciência deles, caso não queiramos descarrilhar o trem. Seguem alguns deles:
- as necessidades de sobrevivência não podem transformar o Teatro do Oprimido em um negócio, em um pacote de serviços ofertado com promessas de resultados ao final do processo;
- o processo de formação não pode ser reduzido e tratado como sinônimo de capacitação. Não se trata de um treinamento, de um aperfeiçoamento, se trata de um trabalho em que o indivíduo faz parte do sujeito coletivo e se coloca como mediador dessa relação. Mas, isso não existe de antemão: é preciso que ambas as partes compartilhem do sentido de construção de um projeto comum, em disputa com o projeto hegemônico, de sociedade, de país. Sem isso, muito da proposta se perde;
- a perspectiva emancipatória não pode ser conquistada de forma individual, logo, Teatro do Oprimido não é uma promessa de melhoria da vida pessoal, de libertação individual dos grilhões que o sistema nos impõe.
Quando perdemos essas questões de vista, o Teatro do Oprimido passa a se apresentar como um conjunto de métodos, agrupados por jogos e exercícios, em categorias, como outras tantas correntes metodológicas do teatro. E a dinâmica do Teatro Fórum passa a ser uma espécie de jogo de ganha e perde, e não um exercício dialético de estudo das contradições da realidade, por um público interessado em estuda-la para intervir nela, lutar e transformar as condições objetivas do real.
Sou professor de teatro e vivencio a cada turma de professores do campo, formada com habilitação em Linguagens, a experiência de perceber duas formas de entendimento sobre o trabalho teatral. Aqueles que compreendem as ligações orgânicas entre formação estética e política e organização social vão se empenhar diretamente na construção de experiências contra-hegemônicas de construção do poder popular, por dentro e por fora da sala de aula, se esforçando por retomar aquele sentido primeiro que Boal quis conferir ao Teatro do Oprimido.
Por outro lado, os que se apropriam da linguagem como, exclusivamente, um método teatral, poderão sem dúvida se tornar competentes professores e oficineiros da técnica, entretanto, o que ocorre com frequência é que a técnica pela técnica se torna um repertório sem alma, sem horizonte, logo, os riscos de mercantilização ou infantilização de uma proposta complexa se tornam muito grandes. No limite, sem preocupação com a estratégia política à qual o teatro político se vincula, voltada sempre para o fortalecimento do poder popular em perspectiva socialista, o Teatro do Oprimido pode e tem se tornado muita coisa dentro do que é possível quando empacotamos o teatro como um negócio: um método de auto-ajuda, uma oportunidade de capacitação profissional, uma diversificação do repertório de dinâmicas de profissionais que procuram ser interativos, um momento interessante na vida das pessoas, que permite interações, no momento da oficina ou curso, mas que não tem saldo organizativo posterior, etc.
Em época como a em que vivemos, em que a Indústria Cultural se antecipa ao rotular os fenômenos sociais com potencial contra-hegemônico, buscando sempre uma forma de administrar de forma mercantil as contradições sociais decorrentes que um sistema econômico e político que sobrevive da superexploraçao da força de trabalho e da degradação em larga escala da natureza, convém rememorarmos os pioneiros do teatro político, como Erwin Piscator, que dizia que “a missão do teatro revolucionário consiste em tomar como ponto de partida a realidade, e elevar a discrepância social a elemento de acusação, da subversão da nova ordem”.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=8MRgmRPLS3s&w=560&h=315]
2, jueves 19 de febrero de 2015
EN ESTE NÚMERO…
Teatreando por Latinoamérica
- Una promesa cumplida por el talento. Amado René del Pino Estenoz
- Moszi vs. Picasso: bifurcaciones del Guernica. Ingry González
- Algunas claves para la comprensión de mi sistema. Aimelys Díaz
A dos voces
- Piedad Bonet, dramaturga: “no soy una impostora”. Vivian Martínez Tabares
(mais…)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=oYrlH4wIGUE&w=560&h=315]