Augusto Boal

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Por Augusto Boal

Tempos atrás, o meu amigo Chico Buarque me mandou uma carta-cantada, carta chamada “Meu Caro Amigo”: Chico dizia que as coisas por aí andavam pretas. E eu fiquei muito contente ouvindo a voz do meu amigo, e muito triste ouvindo as noticias que me dava.

 Tudo isto poderá ser visto e ouvido à partir do dia 4 de junho no Instituto Moreira Salles

Mais uma vez ele tem razão, você pode conferir aqui


Companheiro Boal,
A ti sempre estimaremos por nos ter ensinado que só aprende quem ensina. Tua luta, tua consciência política, tua solidariedade com a classe trabalhadora é mais que exemplo para nós, companheiro, é uma obra didática, como tantas que escreveu. Aprendemos contigo que os bons combatentes se forjam na luta.
Quando ingressou no coletivo do Teatro de Arena, soube dar expressão combativa ao anseio daqueles que queriam dar a ver o Brasil popular, o povo brasileiro. Sem temor, nacionalizou obras universais, formou dramaturgos e atores, e escreveu algumas das peças mais críticas de nosso teatro, como Revolução na América do Sul (1961). Colaborou com a criação e expansão pelo Brasil dos Centros Populares de Cultura (CPC), e as ações do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Pernambuco.
Mostrou para a classe trabalhadora que o teatro pode ser uma arma revolucionária a serviço da emancipação humana.
Aprendeu, no contato direto com os combatentes das Ligas Camponesas, que só o teatro não faz revolução. Quantas vezes contou nos teus livros e em nossos encontros de teu aprendizado com Virgílio, o líder camponês que te fez observar que na luta de classes todos tem que correr o mesmo risco.
Generoso, expôs sempre por meio dos relatos de suas histórias, seu método de aprendizado: aprender com os obstáculos, criar na dificuldade, sem jamais parar a luta.
Na ditadura, foi preso, torturado e exilado. No contra-ataque, desenvolveu o Teatro do Oprimido, com diversas táticas de combate e educação por meio do teatro, que hoje fazemos uso em nossas escolas do campo, em nossos acampamentos e assentamentos, e no trabalho de formação política que desenvolvemos com as comunidades de periferia urbana.
Poucas pessoas no Brasil atravessaram décadas a fio sem mudar de posição política, sem abrandar o discurso, sem fazer concessões, sem jogar na lata de lixo da história a experiência revolucionária que se forjou no teatro brasileiro até seu esmagamento pela burguesia nacional e os militares, com o golpe militar de 1964.
Aprendemos contigo que podemos nos divertir e aprender ao mesmo tempo, que podemos fazer política enquanto fazemos teatro, e fazer teatro enquanto fazemos política.
Poucos artistas souberam evitar o poder sedutor dos monopólios da mídia, mesmo quando passaram por dificuldades financeiras. Você, companheiro, não se vergou, não se vendeu, não se calou.
Aprendemos contigo que um revolucionário deve lutar contra todas, absolutamente todas as formas de opressão. Contemporâneo de Che Guevara, soube como ninguém multiplicar o legado de que é preciso se indignar contra todo tipo de injustiça.
Poucos atacaram com tanta radicalidade as criminosas leis de incentivo fiscal para o financiamento da cultura brasileira. Você, companheiro, não se deixou seduzir pelos privilégios dos artistas renomados. Nos ensinou a mirar nos alvos certeiros.
Incansável, meio século depois de teus primeiros combates, propôs ao MST a formação de multiplicadores teatrais em nosso meio. Em 2001 criamos contigo, e com os demais companheiros e companheiras do Centro do Teatro do Oprimido, a Brigada Nacional de Teatro do MST Patativa do Assaré. Você que na década de 1960 aprendeu com Virgílio que não basta o teatro dizer ao povo o que fazer, soube transferir os meios de produção da linguagem teatral para que nós, camponeses, façamos nosso próprio teatro, e por meio dele discutir nossos problemas e formular estratégias coletivas para a transformação social.
Nós, trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra de todo o Brasil, como parte dos seres humanos oprimidos pelo sistema que você e nós tanto combatemos, lhes rendemos homenagem, e reforçamos o compromisso de seguir combatendo em todas as trincheiras. No que depender de nós, tua vida e tua luta não será esquecida e transformada em mercadoria.
O teatro mundial perde um mestre, o Brasil perde um lutador, e o MST um companheiro. Nos solidarizamos com a família nesse momento difícil, e com todos e todas praticantes de Teatro do Oprimido no mundo.
Dos companheiros e companheiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
02 de maio de 2009

Expo Sesc Fichas_didaticas_1

Boal, 85 anos
A peça de Boal “O corsário do rei” , volta a nos parecer muito apropriada para este momento em que o Brasil e América Latina correm um real perigo de ser novamente pirateados
Voltam a nossa memória as reações violentas que a montagem dessa peça provocou, a coragem do Boal e a adesão do elenco a quem gostaríamos de agradecer de novo
Não deve ter sido fácil se apresentar em cena e defender um texto que estava sendo tão violentamente atacado
Também queremos agora lembrar que Augusto Boal foi vereador pelo PT, o partido dos trabalhadores , cargo do qual muito se orgulhava
Nunca Boal se arrependeu das suas opções
Imagino , ou melhor tento imaginar agora, o que ele pensaria neste momento
Sempre é difícil imaginar o que outra pessoa diria ou faria mesmo que se tenha convivido com ela 43 anos como foi o meu caso
E creio que, a pesar das críticas e das muitas decepções, jamais Augusto Boal negaría os seus vínculos políticos
A sua inteligência, a sua bondade, a sua generosidade
 estiveram sempre do lado daqueles que não tinham privilégios
Por eles se arriscou, colocou a sua vida em perigo, como tantos outros
Por eles escreveu peças com a Lua pequena que começa assim:
” Volto a estrada com meu escudo. Há coisa de dez anos escrevi outra carta de despedida. Eu me queixava de não ser melhor soldado e melhor médico. O segundo já não me interessa
E soldado não sou tão mal……
Em qualquer lugar que me surpreenda a morte, seja bem-vinda: sempre o nosso grito de guerra chegará a um ouvido receptivo, sempre outra mão se estenderá para empunhar o nosso fuzil e sempre outros homens se apressarão a cantar nossos gritos de guerra e de vitória ”
Salve Augusto Boal, doce criatura, salve o seu idealismo
E salve todos aqueles que ainda acreditam num mundo melhor, com agua, pão , vinho e teatro

Anotações de Boal para Coriolano, texto de Shakespeare
Anotações Coriolano

Matérias de Jornais e “Homenagem” do elenco de Ratos e Homens para o diretor Augusto Boal
Matéria de Pachoal Carlos Magno
Ratos e Homens - Pachoal
Matéria de Hermilo Borba Filho
Ratos e Homens - H Borba Filho
 
Carta do elenco de Ratos e Homens (respeitando a grafia original)
“Os abaixo assinado, oferecem à Augusto Boal uma pequena lembrança solidarisando-se com as criticas “SOBERBO DIRETOR”.
Nossos parabéns e nossos agradecimentos ”
3/10/56
 
Ratos e Homens - Carta elenco