Augusto Boal

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Murro em ponta de faca em temporada no Paraná!

11.08.2017

A partir de 18 de agosto a peça Murro em Ponta de Faca, escrita por Augusto Boal em 1974 e dirigida por Paulo José, estará em turnê por 11 cidades do Paraná.
Acompanhe a agenda pelo site: http://murroempontadefaca.redelivre.org.br/
Cecilia Boal fala sobre o espetáculo:

Resolvi aceitar o convite de Nena Inoue, convite urgente, porque ele vai me permitir contar uma historia. Muito se pode dizer sobre o exílio, sobre o sofrimento que causa ter que abandonar seu Pais, sua língua, seus amigos, tudo aquilo que nos dá identidade, para se tornar um estrangeiro. Poderia falar da dor de ser um estrangeiro, um estrangeiro de verdade, no quotidiano, sem nenhuma consideração filosófica

Coisas bem tristes! Por isso achei mais bonito, mais alegre e divertido contar como foi que o meu exílio começou. Conheci Augusto Boal em Buenos Aires em 1966. Eu era uma jovem atriz representando uma peça de teatro num teatro portenho enorme e sombrio. Um dia uma noticia sacudiu o teatro e as suas vetustas estruturas. Tinha chegado um diretor do Brasil. Naquela época o Brasil para mim ficava tão longe como a Austrália. Mas o diretor era charmoso, muito charmoso! E vinha antecedido de uma fama retumbante, era um revolucionário, um militante politico e teatral, um homem perseguido. E eis que este diretor aparece um pouco mais tarde no meu camarim para me convidar a participar do seu próximo espetáculo. Uma semana depois estávamos vivendo juntos. Vim com Boal para São Paulo e o acompanhei pelo mundo. Nunca mais nos separamos, ele foi o meu país. Muitos anos mais tarde, muitos mesmo, já morando de volta no Brasil, um dia me dei conta de uma coisa muito curiosa: a peça que eu representava no momento em que Boal apareceu no meu camarim era uma adaptação de um conto de Scholem Aleijem. É a historia de uma moça que se apaixona por um homem de circo e vai embora com ele. O conto se chama Destinos Errantes. E, de certa forma, o Boal foi sempre assim, um homem de teatro traçando um destino glorioso e mambembe, colado numa mala que guardava sempre pronta embaixo da cama. Porém, tantos desenraizamentos, tantos desterros, não abalaram nunca a sua força, a sua alegria, a sua imensa confiança nos seres humanos, na sua capacidade de transformação e na sua solidariedade O olhar do Boal sobre as coisas do mundo sempre foi um olhar confiante e generoso, alegre e divertido poderia falar horas sobre ele, escrever horas. Mas vou ficar por aqui.

Assistam à peça, ela fala mais e melhor do que eu. Bom espetáculo!

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