Augusto Boal

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Murro em Ponta de Faca em turnê no Nordeste

04.07.2013

Recife, Fortaleza, Salvador…
Murro em Ponta de Faca segue em turnê pelo Nordeste, com direção de Paulo José e produção de Nena Inoue.
Fonte: Jornal O POVO – Fortaleza Ceara 27.06.2013

Boal em exílio

Murro em ponta de faca discute a vida de seis personagens exilados pela ditadura militar brasileira. O texto é de Augusto Boal
Logo no início de Murro em Ponta de Faca, os personagens vão remoendo suas perdas: o músico Paulo (Gabriel Gorosito) lamenta os intrumentos que deixou no Brasil; a esposa dele, Maria (Laura Haddad), recebe a notícia da morte de um amigo; a operária Foguinho (Nena Inoue) chora a distância dos parentes que deixou na América do Sul.
Além deles, outros três – Barra (Abilio Ramos), marido de Foguinho; o Doutor (Sidy Correa) e a esposa, Marga (Erica Migon e Rachel Rizzo) – desfiam as faltas sentidas no estrangeiro. De extratos sociais e vivências distintas, os seis personagens criados pelo dramaturgo carioca Augusto Boal (1931-2009) têm em comum a marca do desterro e do exílio. É de perda e distância a matéria dessa peça.

Produzida pelo Espaço Cênico, de Curitiba, o espetáculo atual é uma remontagem do texto encenado pela primeira vez em 1978 e escrito quando Boal, criador do Teatro do Oprimido, estava autoexilado. A decisão de sair do país veio em 1971, depois de ter sido preso e torturado pelo estado militar brasileiro.
Já radicado em Paris, após viver na Argentina, Equador, Peru, Portugal, ele envia o texto da peça ao ator, diretor e amigo Paulo José, que deu vida àquelas palavras com a companhia de Othon Bastos. Passados mais de 30 anos, a peça ganha um tom mais emocional – e é menos carregada politicamente.
“A grosso modo, é um casal de artistas, um casal de burgueses e um casal de operários”, explica a produtora e atriz Nena Inoue. Em muitos momentos, a voz dos exilados está destacada não na voz do politizado e intelectualizado Paulo, uma espécie de alterego do autor, mas na de Marga, envolvida por conveniência com o marido e cujo maior problema parece ser, em certo sentido, seus vestidos.
Nesta montagem, “o (diretor) Paulo (José) reforçou os embates pessoais entre eles – como entre a Marga, que é burguesa, e a Foguinho, que eu faço”, acrescenta Nena, responsável por convidar Paulo a embarcar no processo.
O espetáculo começa, ainda embrionariamente, no chamado Projeto 70 – realizado pelo Espaço Cênico, durante oito meses, em 2009, discutindo o teatro brasileiro da década de 1970. Nesse momento, segundo Nena, eles encontram o Murro em Ponta de Faca, de Boal, e se encantam com as questões suscitadas pelo texto.
Embora aquele grupo tenha se dissolvido com o tempo, as experimentações foram o ponto de partida para o que viria a ser a nova montagem. Nas primeiras leituras, “a comoção das pessoas foi muito acima do que a gente esperava”, avalia ela. O nome de Paulo José veio em seguida. E ele topou o convite. A peça estreia finalmente em 31 de março de 2011 sob a bênção do prêmio Myriam Muniz, da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Para Nena, além de pôr luz num momento sombrio de nossa história, ainda francamente desconhecido pelas gerações mais novas, a peça é também atual, porque pode suscitar muitos tipos de exílio a que muitos estão lançados. “Analfabetismo é um tipo de exílio, não ter acesso à escola, à saúde, à cultura. Se formos falar do exílio simbólico, convivemos com ele diariamente, como o exílio econômico”, destaca.
Augusto Boal é fundador do Teatro do Oprimido, que se basea em exercícios, jogos e técnicas teatrais com o objetivo de aproximar espectadores e atores, arte e ação social. Boal foi preso, torturado e se exilou em 1971.
Jornal O Povo Online

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