Augusto Boal

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Texto Cecilia Programa Murro em São Paulo

16.08.2011

Resolvi aceitar o convite de Nena Inoué, convite urgente, porque ele vai me permitir contar uma historia
Muito se pode dizer sobre o exílio, sobre o sofrimentos que causa ter que abandonar o seu pais, a sua língua, os seus amigos, tudo aquilo que nos dá identidade , para se tornar um estrangeiro
Poderia falar da dor de ser um estrangeiro, um estrangeiro de verdade, no quotidiano , sem  nenhuma consideração filosófica
Coisas bem tristes!
Por isso achei mais bonito, mais alegre e divertido contar como foi que o meu exílio começou
Conheci Augusto Boal em Buenos Aires em 1966
Eu era uma jovem atriz representando uma peça de teatro num teatro portenho enorme e sombrio
Um dia uma noticia sacudiu o teatro e as suas vetustas estruturas
Tinha chegado um diretor do Brasil
Naquela época o Brasil para mim ficava tão longe como a Austrália
Mas o diretor era charmoso, muito charmoso!
E vinha antecedido de uma fama retumbante, era um revolucionário, um militante politico e teatral, um homem perseguido
E  eis que este diretor aparece um pouco mais tarde no meu camarim para me convidar a participar do seu próximo espetáculo
Uma semana depois estávamos vivendo juntos
Vim com Boal para São Paulo e o acompanhei pelo mundo
Nunca mais nos separamos, ele foi o meu país
Muitos anos mais tarde, muitos mesmo , já morando de volta no Brasil, um dia me dei conta de uma coisa muito curiosa: a peça que eu representava no momento em que Boal apareceu no meu camarim era uma adaptação de um conto de Scholem Aleijem
É a historia de uma moça que se apaixona por um homem de circo e vai embora com ele
O conto se chama Destinos Errantes
E , de certa forma , o Boal foi sempre assim, um homem de teatro traçando um destino glorioso e mambembe, colado numa mala que guardava sempre pronta embaixo da cama
Porém, tantos desenraizamentos, tantos desterros , não abalaram nunca a sua força, a sua alegria, a sua imensa confiança nos seres humanos, na sua capacidade de transformação e na sua solidaridade
O olhar do Boal sobre as coisas do mundo sempre foi um olhar confiante e generoso, alegre e divertido
Poderia falar horas sobre ele, escrever horas
Mas foi ficar por aqui
Assistam a peça, ela fala mais e melhor do que eu
Bom espetáculo!
Cecilia